O Simpósio da FACTA “Salmonella: controle e tendências”, finalizado na noite de 28/04, marcou um momento importante para a Fundação, ao ser realizado de forma totalmente on-line e com público recorde de mais de 500 participantes. Durante dois dias, palestrantes nacionais e internacionais falaram para conferencistas do Brasil e da América Latina, e abordaram conteúdos altamente técnicos e pertinentes para o setor.
Simpósio FACTA discutiu a evolução e o controle da Salmonella na América Latina.
O evento contou com 16 palestras técnicas, mais palestras de empresas, com tradução simultânea para Português e Espanhol e, embora remoto, os participantes interagiam por meio de perguntas enviadas aos moderadores e pelo chat, que foram escolhidas e respondidas pelos palestrantes.
Para o presidente da FACTA, Ariel Mendes, o Simpósio on-line reforçou a importância da FACTA para a indústria avícola brasileira, e requereu um grande esforço da diretoria da fundação para ultrapassar muitas barreiras. “Não nos deixamos abater pela pandemia ou pelas dificuldades e acreditamos que nesse novo normal é possível, sim, realizar eventos com qualidade. Uma amostra disso foram os mais de 500 participantes de países diferentes, e da ampliação da nossa rede de colaboração para a avicultura na América Latina”.
Hebert Trenchi, responsável pelo Comitê Técnico e Científico da Associação Latino-Americana de Avicultura.
Salmonella: controle e tendências
A Salmonella sempre será assunto em voga, dada a alta ocorrência nos plantéis de aves e o potencial zoonótico de alguns sorovares. Fatores relativos à cadeia avícola, ao mercado e ao patógeno mantêm a necessidade de repetidos debates acerca do assunto. Como exemplo, é possível citar novos profissionais inserindo-se no mercado, demandas de diferentes países importadores, lançamento de produtos para o controle das bactérias, bem como uma mudança de perfil de resistência no ambiente e prevalência de sorovares em determinada região.
Ariel Mendes, presidente da FACTA.
Não há uma estratégia única para a redução da positividade, seja a campo ou na planta de abate, por isso falar sobre Salmonella auxilia no entendimento das limitações e oportunidades de controle.
“O mercado sofre sempre em função da detecção de Salmonellas nos produtos finais comercializados. Custos elevados no manejo de cargas rechaçadas impactam o processo, juntamente com o prejuízo da marca que tem seus produtos positivados para a bactéria. Cada país tem suas particularidades de mercado interno com mais ou menos sanções dos órgãos de fiscalização ou da sociedade, porém o resultado é o mesmo: perda de lucro, seja no comércio interno ou externo”, explicou Ariel.
Ricardo Santin, presidente da ABPA.
Para o presidente da FACTA, no Brasil, tratando-se de Salmonellas paratíficas, em geral o controle nos diferentes elos da cadeia produtiva de aves tem princípios sólidos e engajamento dos atores do setor. “Tem-se melhorado a administração da positividade ao longo da cadeia. Porém, há oportunidades de melhorar a execução das ações para uma homogeneidade de resultado, e a análise de risco é que deve nortear estas ações e esforços”.
“Uma tendência clara é a necessidade de particularização do controle, com um programa específico para cada unidade sob planejamento. Sem árdua análise e programação, a aplicação massiva de medidas de mitigação gera fracos resultados”, reforçou Mendes.
Para Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), essa discussão é essencial para o desenvolvimento do setor. “Fazer ciência é a melhor solução para o Brasil e para a avicultura. Hoje, a avicultura promove no País 4,1 milhões de empregos e um PIB de 80 milhões. Somos o maior exportador de carne de aves do mundo e o terceiro maior produtor de carne de frango. Em 2020 produzimos 13,845 milhões de toneladas e delas exportamos 4,230 milhões. Nos últimos 20 anos mais de U$$ 141 bilhões de dólares em receita cambial chegaram ao País pela avicultura brasileira”.
Esses números comprovam a importância da cadeia produtiva de aves para o crescimento do Brasil, porém, mesmo muito tecnificado, o setor ainda precisa lidar com ocorrências de Salmonella. “Embora existam inúmeras fontes potenciais de transmissão da salmonelose humana através de alimentos, a carne de frango comercial foi identificada como uma das matrizes alimentares mais importantes para esse microorganismo”, salientou Santin.
Apesar dos grandes casos atraírem a atenção da mídia, a ocorrência de 60 a 80% de todos os episódios de salmonelose humana são relacionados a casos isolados e esporádicos, os quais, na maioria das vezes, não geram complicações graves. “Controlar a Salmonella é uma das prioridades da cadeia avícola brasileira. Hoje, o Brasil segue à risca as recomendações do Codex, de forma a manter os controles mais rigorosos ao longo da cadeia produtiva. O compromisso com o controle e prevenção rigorosos ao longo da indústria é fundamental para que o setor avícola brasileiro continue a liderar as exportações mundiais”, concluiu o presidente da ABPA.
Como combater a Salmonella na comunidade latino-americana
Com uma visão de campo da América Latina, o professor na Faculdade de Medicina Veterinária do Uruguai e responsável pelo Comitê Técnico e Científico da Associação Latino-Americana de Avicultura (ALA/Uruguai), Hebert Trenchi pontuou a necessidade de sempre se debater Salmonella, uma vez que ainda são comuns o subdiagnóstico, a falta de notificação às autoridades, a venda sem controle de antibióticos, políticas de erradicação pouco claras e a falta de compensação adequada pela possibilidade de erradicação. “A verdadeira situação de controle das salmoneloses ainda é difícil de avaliar na maioria dos países latino-americanos”.
No Uruguai, o especialista afirmou que as medidas usuais de biossegurança incluem a seleção de fornecedores confiáveis de pintinhos e a vacinação basicamente com a cepa 9R em fazendas multicamadas onde há diagnósticos positivos.
O controle das salmoneloses no Brasil é ainda um grande desafio da avicultura industrial e tema de muitas discussões técnicas dentro das empresas. A prevalência da enfermidade é variável de acordo com as situações e pode tornar-se crítica em determinados momentos. Sua epidemiologia complexa e a persistência no ambiente dificultam o seu controle, o que reforça a necessidade de monitorias contínuas, boas práticas de manejo e biosseguridade.
“Neste contexto, as salmoneloses continuam sendo um grande ponto de discussão, pois, apesar dos enormes esforços para minimizar as perdas, o agente é de difícil controle, gerando a necessidade de fóruns como este para a discussão e atualização das melhores práticas”, explicou o médico-veterinário, mestre em Patologia Animal, membro do corpo técnico da FACTA e coordenador do Simpósio, Alberto Yocyitaca Inoue.
Várias medidas preventivas e de controle são necessárias para a manutenção dos níveis aceitáveis de Salmonella. Tais medidas vão desde a biosseguridade e controle de matérias-primas até o abatedouro, passando pelos setores de produção. “Nesta edição, o foco do Simpósio foi a discussão em cada um desses pontos críticos, levando não só informação, mas a reflexão sobre as necessidades de ação e a troca de experiências dos palestrantes”, salientou Inoue.
Nesse sentido, os congressistas trouxeram uma abordagem de todos os elos da cadeia produtiva e os pontos mais frágeis em cada um deles no que diz respeito à introdução, disseminação e manutenção das Salmonellas no sistema de produção de aves, tendo como foco principal o fomento e a difusão de novos conhecimentos e tecnologias aplicáveis ao desenvolvimento sustentável da avicultura.
Mesmo on-line, os participantes puderam acompanhar um evento dinâmico com informações aplicáveis na sua rotina. A disposição dos temas buscou dar uma visão global e avançar em cada um dos setores envolvidos, de forma didática e aberta, oferecendo a oportunidade de debates com especialistas de cada área.
Programe-se: vem aí a Conferência FACTA WPSA-Brasil
A 38ª edição da Conferência FACTA WPSA-Brasil será realizada de forma totalmente on-line entre os dias 22 e 24 de junho de 2021. A exemplo do evento promovido ano passado, que reuniu mais de 400 conferencistas de 16 países, a Fundação optou por manter a versão digital, considerada um sucesso pelos participantes, diante das incertezas do próximo semestre.
Segundo Ariel Mendes, o tema escolhido para a Conferência é “Avicultura, recalculando…”, indicado devido à necessidade do setor produtivo de se adaptar para continuar produzindo, além de alterar a maneira como os produtos avícolas passaram a ser comercializados após o início da pandemia.
Para mais informações acesse: www.facta.org.br.
Sobre a FACTA
A Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas (FACTA) é uma organização civil sem fins lucrativos, fundada em 10 de agosto de 1989, incorporando e ampliando atividades técnicas e científicas originalmente desenvolvidas por sua idealizadora e criadora, a APINCO – Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte.
Tendo como foco principal o fomento e a difusão de novos conhecimentos e tecnologias aplicáveis ao desenvolvimento sustentável da avicultura, a FACTA atende seus objetivos realizando eventos de atualização técnica, aperfeiçoando mão de obra operacional e técnica por meio de cursos específicos, divulgando conhecimentos avícolas através de publicações especializadas e estimulando a evolução técnica, científica e tecnológica da atividade pela dotação de prêmios de estímulo.
Para mais informações acesse: www.facta.org.br.