Que 2020 para o mercado da soja, senhoras e senhores! Se a surpresa – nada bem-vinda, diga-se de passagem – da pandemia do novo coronavírus deixou o mercado apreensivo e desacreditado no início, diante de tantos desafios e incertezas que se impuseram frente à economia global, a volatilidade que veio na sequência beneficiou os preços e trouxe os melhores patamares em mais de seis anos na Bolsa de Chicago.
Na quarta-feira, 30 de dezembro, o mercado que começou o dia em queda e realizando lucros depois de mais de 40 pontos de alta na sessão anterior, voltou a subir para fechar com ganhos de 1 a 8,25 pontos nos principais contratos. Assim, o janeiro termina o dia com US$ 13,03 por bushel e o março com US$ 13,00. O mercado lutou para alcançar a casa dos US$ 13,00 e, com os fundamentos falando mais alto e com consistência, tem força para manter-se dessa forma e alçar vôos ainda mais altos.
O mercado costuma chamar o atual momento de “tempestade perfeita”. E talvez seja mesmo. Os preços da soja em Chicago são beneficiados por um alinhamento de fatores que há tempos vem sendo alertado por analistas e consultores. Há escassez da oleaginosa em todo mundo em um momento em que o crescimento da demanda é latente e inquestionável.
De 2 de janeiro a 30 de dezembro, os futuros da oleaginosa registram uma valorização acumulada de mais de 35%, ou uma alta de mais de US$ 3,00 por bushel. E essa escalada foi o que levou a novos momentos nas exportações norte-americanas de soja – onde quase todo o programa 2020/21 de vendas externas já está concluído – e a estoques muito apertados, considerados um dos menores dos últimos anos. Em seu último boletim mensal de oferta e demanda, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) o número veio em 4,67 milhões de toneladas.
E durante todo o ano, o consultor de mercado e diretor do SIMConsult, Liones Severo, já vinha alertando sobre a escassez de soja no mundo, além de outros produtos.
As vendas dos EUA para a China foram retomadas, recuperaram uma força semelhante aos níveis pré guerra comercial e também foram um destaque de 2020. As compras do gigante asiático somente de soja nos EUA somaram US$ 8,1 bilhões, contra US$ 13,9 bilhões de 2017, no pré guerra comercial. Foram 20,05 milhões de toneladas, 45% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Somente em novembro, as importações de soja da China nos Estados Unidos, ainda de acordo com dados da Administração Geral das Alfândegas, foram de 6,04 milhões de toneladas, 136% a mais do que no mesmo mês de 2019. O volume é maior ainda do que as 3,4 milhões de toneladas importadas da oleaginosa americana em outubro.
Enquanto a demanda surpreende, a nova safra da América do Sul também exige atenção. As adversidades climáticas começaram no início do plantio tanto no Brasil, quanto na Argentina e no Paraguai, prejudicaram a produtividade e minaram as estimativas iniciais para a safra dos três países.
Para a colheita brasileira, embora a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) tenha trazido sua última estimativa em 134 milhões de toneladas, consultorias privadas e a Aprosoja Brasil já estimam números abaixo das 130 milhões.
Apesar de uma área recorde tendo sido semeada – mais de 38 milhões de hectares, a perspectiva da associação é de que a produtividade média fique limitada em função das adversidades. “A produtividade já está um pouco mais abaixo”, diz o presidente Bartholomeu Braz Pereira. A estimativa da associação para a safra do Brasil variam entre 128 e 129 milhões de toneladas.
Assim, o quadro preocupa diante das vendas antecipadas já muito adiantadas para a produção da safra 2020/21. O próximo ano começa com um atraso esperado para a colheita – com os trabalhos já sendo iniciados apenas pontualmente, em Sapezal/MT -, mas com a comercialização muito avançada. Afinal, são cerca de 60% da produção já comprometida.
As altas intensas registradas no mercado de Chicago e mais um dólar acima dos R$ 5,00 – que chegou a se aproximar dos R$ 6,00 – foram a combinação ideal e suficiente para motivar os sojicultores brasileiros para avançarem com suas vendas.
Para o mercado disponível, ao longo de todo ano, o quadro foi igual. Os preços da soja brasileira alcançaram patamares historicamente altos – com a soja batendo nos R$ 170,00 e mais em algumas regiões, foram renovando recordes quase que diariamente com estoques zerados, enquanto as exportações também batiam recordes, tal qual o esmagamento, o qual será outro elo da cadeia a registrar momentos históricos em 2021.