Os preços nos portos terminaram a semana acumulando uma baixa de mais de 1% entre Paranaguá e Rio Grande, onde os indicativos entre mercado spot e referência para abril ainda variam entre R$ 164,00 e R$ 167,00 por saca. Em Santos, a posição junho/21 segura os R$ 180,00.
No interior, o mercado físico segue com preços acima dos R$ 150,00 por saca em todos os principais estados produtores de soja do país. Afinal, apesar da baixa de 1,36% do dólar no acumulado da semana e de 2,12% em março, a alta em todo 2021 ainda é de 5,63%.
Dessa forma, é possível ver o mercado brasileiro de soja já bastante descolado da Bolsa de Chicago, em um movimento que acontece bem mais cedo do que em anos anteriores, principalmente no interior.
“Temos soja em reais por saca em patamares históricos, jamais observados, enquanto que na Bolsa de Chicago em 2008, 2012, 2013 e 2014 operou em patamares semelhantes ou acima do que a atual casa dos US$ 14,00 por bushel”, explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios.
Os preços da soja praticados na Bolsa de Chicago, nos últimos 12 meses – de 16 de março de 2020 a 16 de março de 2021 -, passaram por uma expressiva recuperação e acumulam um ganho de mais de US$ 4,00 em algumas referências e se consolida em um patamar que reflete melhor a atual relação de oferta e demanda onde o consumo da oleaginosa já se mostra maior do que a produção.
O contrato maio registra uma alta acumulada no período de 73,08%, passando de US$ 8,21 para US$ 14,21. O julho subiu 70,12% e o agosto, 54,49%, para alcançarem US$ 14,12 e US$ 12,90 por bushel.
Nesta sexta-feira (19), os preços recuperaram boa parte das correções pelas quais passaram durante a semana e fecharam o dia com quase 30 pontos de alta. Assim, o saldo foi positivo para os primeiros contratos – maio e julho/21 -, com ganhos acumulados de 0,21% e 0,14%, respectivamente, para US$ 14,16 e US$ 14,03 por bushel. Em contrapartida, o agosto perdeu 0,44%, passando de US$ 13,62 – na última sexta (12) para US$ 13,56.
Assim, já é possível ver também pontos do Brasil onde o interior paga melhor do que a exportação, com uma melhora do chamado ‘prêmio doméstico’, ainda segundo Pereira, com a indústria conseguindo superar o basis para exportação, retendo o grão internamente. E internamente, diga-se de passagem, a demanda pela oleaginosa também é bastante forte.
“Este é um movimento que comumente observamos no segundo semestre de todo ano comercial. Entretanto, neste ano o consumidor doméstico tenta antecipar tais aquisições com o risco da escassez e dificuldade de originar o grão após o fechamento da nossa janela de exportação”, afirma o diretor da Pátria.
Pereira, no entanto, lembra ainda que mesmo com uma produção recorde, as demandas interna – com força tanto na produção de rações como na de biodiesel – e externa cresceram com mais velocidade do que a oferta. “Já é o segundo ano consecutivo que isso acontece, e ainda deveremos continuar observando um cenário semelhante por mais 2-3 anos”.
Nesta semana, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) revisou para cima suas projeções de produção, exportações e esmagamento de soja do Brasil, este último podendo chegar a expressivos 47 milhões de toneladas.
Do mesmo modo, os embarques brasileiros de soja também têm melhorado muito em março, depois dos atrasos severos sendo registrados em fevereiro. De acordo com os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o Brasil já embarcou 5,136 milhões de toneladas da oleaginosa, volume que mostra um aumento de cerca de 4% em relação ao mesmo período da março 2020.
O montante é aproximadamente a metade do total embarcado no mesmo mês do ano passado – 10,85 milhões de toneladas – e sinaliza, segundo especialistas, que aos poucos o ritmo dos embarques vai se normalizando com um avanço melhor da colheita.
Nas imagens abaixo é possível observar a intensificação do fluxo de navios carregados com soja saindo do Brasil do dia 5 para 19 de março.
É possível comparar ainda, nas imagens compiladas pela analista internacional de commodities Karen Braun, com os mesmos períodos em março de 2020 e 2019.
“Nosso lineup subiu na semana passada e isso é um bom sinal. Na semana passada, embarcamos quase 3 milhões de toneladas de soja, enquanto o Lineup de 45 dias voltou a bater os 19 milhões de toneladas. Ou seja, estamos embarcando bem ao mesmo tempo que temos demanda nova sendo adicionada”, explica Matheus Pereira.
Assim, deverá seguir forte e intensa a disputa da pouca oferta ainda a ser comercializada no Brasil entre exportação e demanda interna, porém, de forma mais agressiva dado que são maiores do que a oferta.
COLHEITA DA SOJA
E os embarques têm melhorado no Brasil não só pelas condições climáticas mais favoráveis para a logística, mas também pelo avanço da colheita. Números trazidos pela Pátria nesta sexta-feira mostram que os trabalhos de campo foram concluídos em 59,37% da área cultivada com a oleaginosa no Brasil.
“Os trabalhos de campo no Brasil voltaram a ganhar ritmo nesta semana, uma vez que grande parte do Brasil Central observou condições climáticas favoráveis para o avanço da colheita. Assim, tivemos um avanço semanal de quase 13%, sendo um dos avanços mais agressivos na história do país. Neste mesmo período em 2020 tínhamos 71,7% colhido contra 68,30% na média dos últimos 5 anos”, informa a consultoria.
Todavia, Matheus Pereira volta a lembrar que “mesmo com um avanço marginal, semana após semana, agressivo, será impossível “recuperar o tempo perdido”, pois os principais estados produtores de soja no Brasil já estão em reta final de colheita, o que reduz – matematicamente – o crescimento nacional da colheita”.
Ainda assim, afirma também que, mesmo com esse quadro, não se muda o cenário vivido hoje pelo mercado brasileiro. “Estamos vivendo plena oferta disponível da soja no Brasil, ou seja, alívio pro exportador”.