Mais de cem pontos. Cem. Ou, mais de US$ 1,00 por bushel. Ou, mais de 8%. Essas foram as perdas registradas pelos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago somente no pregão desta quinta-feira (17), as maiores perdas diárias em décadas para a commodity negociada na CBOT. Com isso, o limite de baixa para a soja foi ampliado e é agora de 150 pontos/dia. Dessa forma, o vencimento julho terminou o dia com US$ 13,29 e o novembro, US$ 12,52 por bushel.
No milho, os principais vencimentos fecharam no limite de baixa e perdendo 40 pontos nos principais vencimentos – ou registrando baixas de mais de 5% -; o trigo perdendo mais de 3%; café e açúcar negociados na Bolsa de Nova York caindo mais de 2%, algodão e petróleo mais de 4,5% e o ouro, perdas de quase 5%.
O dia foi de queda generalizada para as commodities, mais uma vez, e sentiu forte a pressão do dólar index. O índice subiu forte frente a uma cesta de principais moedas e, entre outros fatores, desencadeou um movimento de venda generalizada – o chamado sell-off – de posições entre as commodities, e não só as agrícolas.
“O petróleo caiu para sua mínima em um mês diante de uma alta do dólar e pelo comportamento dos investidores, que estavam com posições empilhadas para se proteger da inflação, o que promoveu, inclusive, a saída de outros setores”, noticiou a Bloomberg nesta quinta. “Tudo o que esta relacionado a commodities caiu forte. Esta é uma liquidação que veio sendo construída há semanas”, disse à agência internacional de notícias o representante da Again Capital LLC, John Kilduff.
O Bloomberg Commodity Spot Index, índice que monitora 23 commodities recuou pela sexta sessão consecutiva, assim como a soja na Bolsa de Chicago, registrando sua pior semana desde o início da pandemia. As perdas nas posições mais negociadas do óleo de soja passaram de 9% e no farelo, de 4%. Na soja em grão, desde a máxima em oito anos alcançada em maio, a baixa acumulada já é de 20%.
Além do dólar em alta, analistas ainda atribuem as baixas agressivas às recentes informações trazidas pelo Federeal Reserve e os anúncios feitos pela China de sua interferência no mercado de commodities no país, de forma a tentar conter os preços altos.
“E então, aquele temor que o mundo tem há algum tempo sobre os estoques chineses, a China tem estoque de tudo. E ela tem esse poder de, em algum momento, estancar o sangramento, no sentido dos preços estarem subindo, segurando as compras e deixando os estoques no mercado. Pelo que vimos, ela começou a fazer isso com metais e com essa sinalização, o mercado se antecipa e acha que vai fazer com grãos e com tudo mais. E ainda o governo chinês fazendo investigações com algumas empresas. E é isso, esse temor de que a China possa mexer nesse mercado, parando de comprar produto e jogando seus estoques no mercado, fisicamente falando”, explica Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da Safras & Mercado.
FUNDAMENTOS
Além de toda a movimentação do mercado financeiro e do recuo de commodities muito além das agrícolas, os preços da soja ainda tiveram suas perdas intensificadas por fundamentos próprios, como a previsão de clima melhor para o Corn Belt a partir da semana que vem e pelo mercado incerto de biocombustíveis nos Estados Unidos.
As baixas no óleo de soja vem sendo motivada por uma insegurança que neste momento paira sobre o mercado de biocombustíveis nos EUA com a possibilidade de uma redução no mandatório do biodiesel e do etanol de milho.
CLIMA NOS EUA
O mercado permanece bastante atento às condições de clima para a próxima semana, onde os mapas do modelo americano ainda mostram a chegada de algumas chuvas e temperaturas mais baixas, até menos abaixo da média, para algumas regiões do Meio-Oeste americano.