Os ganhos têm se dado, como explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest, com uma série de fatores alinhados, entre eles as questões climáticas. Dos EUA ao Brasil, os problemas sofridos, principalmente pelo milho, seguem catalisando os ganhos para os preços dos grãos.
A segunda safra brasileira do cereal continua sofrendo com a falta de chuvas nos principais estados produtores e as previsões climáticas seguem indicando a manutenção do tempo seco no Brasil Central, onde se concentra a produção da safrinha.
Do mesmo modo, os traders acompanham o clima frio que volta a preocupar nos Estados Unidos. Os mapas de previsões para os próximos 6 a 10 e 8 a 14 dias atualizados diariamente pelo NOAA, o serviço oficial de clima norte-americano, seguem mostrando temperaturas abaixo da média para o leste do país, pegando estados-chave na produção de grãos, como Illinois, Indiana, Ohio, partes do Missouri, Iowa, Arkansas, e a germinação acaba sendo colocada em xeque.
O primeiro mapa mostra as condições para o período de 12 a 16 de maio e as áreas de frio intenso, inclusive com riscos de geadas, se dão naquelas coloridas em azul.
Na sequência, as imagens mostram as condições esperadas para o intervalo de 14 a 20 de maio. E é importante ressaltar que este mês é bastante importante para o semeio da soja nos Estados Unidos e que, apesar das temperaturas baixas, o ritmo dos trabalhos de campo tem sido recorde.
Sobre as chuvas, as condições para o primeiro intervalo – de 6 a 10 dias – mostram volumes dentros da normalidade (nas áreas em cinza) em parte do Corn Belt. Na sequência – 8 a 14 dias – já trazem condições um pouco melhores, com as áreas em verde mostrando precipitações ligeiramente acima da média.
Ao lado do clima, a Agrinvest ainda pontuou como fator de alta para os preços a volta da China do feriado nacional com margens melhores de esmagamento, o que poderia promover uma demanda mais frequente no mercado internacional.
Paralelo aos fundamentos, o mercado ainda continua observando não só nos grãos, mas em quase todas as commodities agrícolas, com um fluxo monetário intenso fluindo no mercado financeiro e estes sendo ainda ativos atrativos para os investidores. Os fundos seguem carregando elevadas posições compradas nos grãos, com destaque para o milho e também chamam a atenção do mercado.
“Entramos em uma bolha especulativa/emocional. Os altistas ainda dominam o mercado e, apesar de ser cedo ainda na temporada americana, o objetivo continua sendo de fazer novas máximas hístoricas”, acredita Steve Cachia, consultor de mercado da Cerealpar e da TradeHelp.
Por outro lado, ainda como explica o executivo, há também um “mercado que começa a ficar superlotado com aqueles que subiram tarde neste bonde altista”, referindo-se ao intenso e elevado posicionamento dos fundos investidores nas commodities.
“É um momento de grande risco neste curto prazo, com volatilidade elevada possível para qualquer lado. Do lado fundamental, no momento vale o ditado que a melhor cura para preços altos e preços mais altos’, porque a demanda para soja americana precisa continuar sendo racionada nos EUA, e não estamos ouvindo notícias de cancelamentos ou e vendas quase zeradas”, completa.
Complementando o quadro, há ainda as condições ruins de baixo nível das águas do Rio Paraná comprometendo as exportações argentinas. A informação não ajudou a puxar somente o preço do grão, mas também do farelo e do óleo, os quais terminaram o dia com altas de mais de 1% na Bolsa de Chicago.
MERCADO BRASILEIRO
O dólar voltou a cair nesta quinta-feira e encerrrou o dia com baixa de 1,62% e valendo R$ 5,28, o que acaba contendo o avanço das cotações da soja no mercado brasileiro. Ainda assim, os ganhos fortes em Chicago fazem sua parte e ajudam na manutenção de patamares elevados. Os negócios, todavia, são escassos.
“Os produtores não sinalizam interesse de venda e novas vendas estão postergando para vender até onde vai, especialmente pelas recuperações recentes. Estamos agora com o maior nível histórico nominal já observado no Brasil, com níveis entre R$ 170,00 e R$ 175,00 de preços médios mensais e com tendência altista. Então, claramente, o produtor tende a postergar”, diz Lucilio Alves, pesquisador do Cepea, em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Nos portos, os indicativos variam de R$ 181,00 a R$ 184,00 por saca nas posições de embarque de maio a agosto, como explica Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. Para indústrias, as referências têm oscilado entre R$ 177,00 e R$ 180,00, porém, com pouca pressão de venda.