A pressão sobre os prêmios da soja no Brasil continua neste início de semana e tem sido um dos pontos de atenção do mercado nacional. O levantamento diário feito pelo Notícias Agrícolas mostra que, como referência no porto de Paranaguá, a posição março/21 já tem prêmio negativo de 5 cents de dólar sobre o preço praticado na Bolsa de Chicago. Nas demais posições, os valores variam entre 10 e 20 centavos. As baixas em relação à última sexta-feira (19) variaram entre 33% e 120%.
Como explica Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest Commodities, esse recuo dos prêmios reflete as compras antecipadas da China realizadas o aumento das logísticas interna e externa. “A alta do dólar hoje pressiona, mas a queda dos prêmios vem acontecendo há semanas”, diz. No início do dia, a moeda americana subia quase 3%, superando os R$ 5,50.
Analistas e consultores, todavia, afirmam que essa pressão é pontual e passageira. “Essa é uma queda de momento, tanto que, de maio em diante, os valores são positivos”, complementa Araújo.
Com a colheita avançando em um ritmo um pouco melhor no Brasil, a logística também fica, por outro lado, um pouco mais pressionada em todos os elos da cadeia de distribuição. Há falta de caminhões sendo registradas em diversos pontos do país, os fretes já estão mais caros, e o lineup do Brasil – com muitos navios ao largo dos portos brasileiros – passa de 16 milhões de toneladas.
“O programa de exportação brasileiro está bem atrasado, assim como também a movimentação de soja para a China”, explicam analistas da Agrinvest.
Dados apurados pela corretora mostram que, de acordo com relatórios de nomeações e embarques, apenas 2,9 milhões de toneladas de soja já haviam sido embarcadas até a última sexta, contra 5 milhões de 2020 neste mesmo período. Para a China, o total de soja embarcada no Brasil foi de 2 milhões apenas, contra 3,6 milhões do ano passado.
“Muitos sojicultores têm pressa em colher a oleaginosa, com o objetivo de conseguir cumprir os contratos. Tradings, por sua vez, estão atentas ao recebimento da soja contratada dentro do prazo – atrasos nas entregas podem limitar os embarques e resultar em multas nos carregamentos portuários. Com isso, a logística para março já está comprometida, e grande parte dos agentes mostra interesse em negociar a soja com entrega apenas a partir do segundo trimestre deste ano”, informa os pesquisadores do Cepea.
Assim, o que se observa no mercado brasileiro são novos negócios ainda muito raros e pontuais, sem grandes movimentações, com os produtores e demais elos da cadeia focados no cumprimento dos contratos e na conclusão da colheita.
O último levantamento da Pátria Agronegócios mostra que os trabalhos de campo foram concluídos em apenas 13,83% da área 2020/21, contra 33,59% do ano passado e 33,39% da média dos últimos anos.
A vantagem para o mercado agora, todavia, é a soja brasileira mais barata do que a norte-americana neste momento, o que intensifica a volta da China ao Brasil nos próximos meses, como explica Ênio Fernandes, consultor em agronegócios da Terra Agronegócio. E essa chegada mais expressiva dos compradores chineses pode ajudar na recomposição dos prêmios e trazer melhores oportunidades ao mercado nacional.
Nesta segunda-feira, diante deste cenários, os preços da soja nos portos do Brasil fecharam em queda. Em Paranaguá, R$ 165,00 no spot e R$ 164,00 para março, com perdas de 0,60% e 0,61%, respectivamente. Já no terminal de Rio Grande, são R$ 164,00 e R$ 163,00, com baixa de 0,91% e estabilidade, nesta ordem.
EXPORTAÇÃO X DEMANDA INTERNA
Fernandes, porém, lembra que há estados onde a disputa entre demanda externa e interna segue acirrada e tende a ser assim durante todo ano, como Paraná e Rio Grande do Sul, diferente de estados do Matopiba, por exemplo, onde o mercado exportador muda o foco ao longo do ano, com mais força ainda durante o segundo semestre.
Há alguns estados onde o mercado interno já paga melhor do que a exportação, dado que as projeções são de um novo recorde de processamento de soja em 2021 diante das boas demandas tanto de farelo, quanto de óleo de soja.
E aos poucos, com a soja mais competitiva – e mais barata – do mundo, o Brasil verá, novamente, segundo analistas e consultores, uma nova disputa acirrada pela oferta da maior safra de soja da história, que está sendo colhida aqui e agora.
BOLSA DE CHICAGO
Na Bolsa de Chicago, depois de um início de dia mais lento e estável, as cotações da soja fecharam o pregão desta segunda-feira com altas de 6,50 a 13,75 pontos. Assim, o março encerra o dia com US$ 13,83 e o agosto com US$ 13,37 por bushel. O mercado acompanhou os ganhos das demais commodities, principalmente as vizinhas milho e trigo, este último terminando o pregão com altas de mais de 2% na CBOT.
Não só subiram forte os grãos, como as demais commodities agrícolas, com destaque para as altas de mais de 4% do café em Nova York, e também das demais commodities, como o petróleo que fecha o dia com alta de 3,86% e e o barril do WTI superando US$ 61,00.
De acordo com analistas internacionais, um dos principais suportes aos preços, neste momento, vem dos já apertados estoques americanos e das estimativas de que assim continuarão na próxima temporada nos EUA, segundo os números trazidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) na última semana.
Os novos números trazidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta segunda-feira (22) mostram que os embarques norte-americanos de soja, no acumulado da temporada, já são 77% maiores do que há um ano. Na semana encerrada no último dia 18, o país embarcou 721,845 mil toneladas – dentro das expectativas de 300 mil a 950 mil toneladas – levando o acumulado no ano comercial 2020/21 a 50,916,438 milhões.
No ano passado, neste mesmo período, o total nao chegava a 30 milhões.
A China continua sendo protagonista deste mercado e do total das mais de 50 milhões de toneladas já embarcadas de soja pelo EUA, 22% têm como destino a nação asiática.
O USDA estima que em toda a temporada os EUA exportem 61,24 milhões de toneladas e, deste total, 59,9 milhões de toneladas já estão comprometidas com a comercialização.