Uma nova confirmação do ajustado cenário de oferta e demanda no complexo soja global veio pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) na última terça-feira (12) e foi um dos principais pilares de suporte para o saldo positivo que esta semana reservou para os futuros da soja negociados na bolsa de Chicago. As posições mais próximas fecham acima dos US$ 14,00 por bushel e com ganhos superiores a 3%, apesar do fechamento negativo desta sexta-feira (15).
O contrato março subiu, desde a última sexta (8), 3,06%, para US$ 14,16 e o maio, 3,14% para US$ 14,14 por bushel. Embora alguns movimentos pontuais de realizações de lucros tenham sido registrados ao longo da semana, principalmente depois da dispara dos preços na sequência da divulgação do boletim mensal de oferta e demanda do departamento americano.
Ainda assim, os números vieram somente a confirmar que os estoques mundiais da commodity estão bastante apertados, na medida em que o consumo vem registrando uma força consistente e crescendo. E nos Estados Unidos, a demanda foi intensa nos últimos dias. Quase todos os dias foram trazidos informes diários de novas vendas norte-americanos e o boletim semanal de vendas para exportação também vieram com bons dados.
Na semana encerrada em 7 de janeiro, os EUA venderam 908 mil toneladas de soja, enquanto as projeções variavam entre 300 mil e 700 mil toneladas. A China ainda se mantém como o principal destino da oleaginosa norte-americana. Dos 60,69 milhões de toneladas estimadas para serem exportadas pelos EUA na temporada 2020/21, o país já comprometeu 55,676 milhões. O volume é 83% maior do que o comprometido no mesmo período do ano passado.
No início de 2021, o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities, já havia sinalizado, em entrevista ao Notícias Agrícolas, que o avanço intenso dos preços deveria provocar um racionamento da demanda. A necessidade, porém, ainda parece maior do que a pressão da escalada dos preços no mercado internacional.
E a continuidade dessa escalada de forma tão intensa vai depender também, além das questões de oferta e demanda, do clima na América do Sul. A colheita começa a ganhar ritmo no Brasil, embora o atraso que já se contabiliza no país já seja combustível para as cotações na Bolsa de Chicago, e também as condições de chuvas para a Argentina. As precipitações dos últimos dias foram melhores, acontecendo com melhores volumes e de forma mais consistente, e as previsões indicam a continuidade destas condições ligeiramente mais favoráveis para os próximos dias.
Para os próximos cinco dias, de acordo com informações do Commodity Weather Group (CWG), cerca de 60% das áreas produtoras de soja e milho da Argentina deverão ser beneficiadas com chuvas, as quais podem variar entre 12,8 e 38,4 mm.
“Boas precipitações podem chegar ao norte e leste da Argentina até sábado, o que deve ser observado também no período dos próximos 11 a 15 dias (25 a 29 de janeiro) e o stress hídrico para a soja e o milho já deverá se mostrar mais limitado”, explicam os meteorologistas do CWG.
MERCADO BRASILEIRO
No Brasil, o impacto das altas em Chicago é bastante favorável para a formação dos preços. Todavia, o fiel da balança deve ser o dólar, que registrou uma semana também positiva, com alta de 2,09% e a moeda americana valendo R$ 5,30. Somente nesta sexta-feira, o ganho da divisa foi de 1,76%. Os negócios, porém, ainda estão limitados no Brasil com a safra já bastante comprometida com a comercialização e com o produtor aguardando para registrar o quanto efetivamente será sua colheita nesta temporada.
Nos portos, as principais referências permaneceram estáveis na movimentação semanal. Em Paranaguá, R$ 167,00 por saca no disponível e de R$ 169,00 para março. Em Rio Grande, R$ 166,00 tanto no spot, quanto para fevereiro 2021.
“O importante é o produtor entender que as cotações estão postas a mesa. Preços de soja acima de US$ 30,00 a saca, no porto, não é a qualquer momento. Isso aconteceu lá no período de inflação das cotações em 2008, depois 2013, parte de 2014, mas por um curto período de tempo. Agora temos um mercado internacional firme, uma recuperação econômica que também pode dar suporte às commodities agrícolas, mas isso tudo também pode e vai se refletir nos insumos. Então, mesmo em momento de preços altos, é importante que as contas sejam feitas para que as oportunidades sejam aproveitadas e não perdidas”, explica o pesquisador do Cepea, Lucílio Alves.
E complementa lembrando que “a grande questão é se o câmbio continua neste patamar, ou se teremos oscilações e oscilações negativas. Isto está fora de controle e foge desse ambiente do agronegócio, entra o ambiente econômico – Brasil e mundo – e questões políticas também fora do nosso controle”.