Diante dos problemas que vêm enfrentando em função do clima, os sojicultores acompanham o mercado, porém, ao invés de novos negócios, focam mais no cumprimento de seus contratos. A safra 2020/21 vem enfrentando problemas de norte a sul, deverá ser menor do que o inicialmente esperado, e a qualidade dos grãos colhidos até agora em boa parte do Brasil preocupa bastante.
“Tecnicamente, nesta fase só nos resta torcer. O que as empresas podem fazer é um blend, ou seja, misturar um pouco dessa soja (tipo 2), com muita soja tipo 1 para conseguir honrar seus contratos”, acredita Claudeir Pires, CEO da Academia da Soja.
Assim, os produtores deverão ter ainda boas oportunidades de voltar a comercializar o restante da safra 2020/21, principalmente no segundo semestre, ainda como explica Gutierrez. O pouco volume deverá ser disputado entre a demanda interna e as exportações, e os indicativos deverão contar ainda com um dólar mais alto e prêmios voltando a se valorizar.
A opinião é compartilhada por Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios. Vejo a soja com um viés para alcançar os R$ 200,00 por saca, talvez não com tanta velocidade, e temos batido nessa tecla desde outubro do ano passado. Puxamos o freio de mão na comercialização futura, não estamos recomendando vendas desde outubro nem para a safra colhida em 2021, nem para safra futura. Não há necessidade de venda, a não ser por necessidade financeira”.
Assim, o analista afirma ainda que há espaço para boas e fortes altas para a soja brasileira baseadas nos três pilares de formação de preços: câmbio, Chicago e prêmios.
Durante toda a semana, o Notícias Agrícolas veio noticiando os relatos e análises de produtores rurais e lideranças da sojicultura brasileira sobre o atual momento da safra. Os problemas registrados no início do plantio, com a falta de chuvas em importantes regiões produtoras do país, foram se estendendo durante o desenvolvimento e culminam neste momento da colheita, já bastante atrasada em relação a anos anteriores.
Nesta semana, o mercado brasileiro já viu a China voltar às compras por aqui, garantir produto brasileiro para embarques mais longos e ajudar na retomada dos prêmios, que chegaram a marcar valores negativos nos últimos dias, em função do atraso dos embarques – também motivado pelas chuvas nas regiões dos portos – e da demanda da nação asiática um pouco menos agressiva nas últimas semanas.
Além disso, a oleaginosa brasileira já chega a ser até US$ 20,00 por tonelada mais barata do que a americana neste momento.
No dólar, o fechamento da semana marcou a máxima em quatro meses, com a moeda encerrando o pregão desta sexta-feira em R$ 5,68, com uma alta de 0,40%. “O dólar fechou na máxima em quatro meses nesta sexta-feira, aproximando-se de 5,70 reais e engatando a terceira semana consecutiva de valorização, com investidores replicando os ganhos da moeda norte-americana no exterior e ainda no aguardo das próximas votações da PEC Emergencial”, informa a agência de notícias Reuters.
BOLSA DE CHICAGO
Na Bolsa de Chicago, as cotações fecharam a sessão com altas de 18,50 a 19,50 pontos nas posições mais negociadas, levando o março a US$ 14,34, o maio a US$ 14,30 e o agosto a US$ 13,71 por bushel. Na semana, porém, os preços acumularam ganhos respectivos de 2%, 1,85% e 1,71% em relação à ultima sexta (26).
O mercado se volta a seus fundamentos, ainda monitorando as questões climáticas na América do Sul, com problemas e preocupações sendo registrados no Brasil e na Argentina, limitando ainda mais uma oferta já escassa.
A cada dia em que as chuvas continuam chegando ao centro-norte do Brasil, a preocupação dos sojicultores aumenta. As regiões onde o excesso de umidade ainda castiga as lavouras, a soja segue perdendo qualidade e a impossibilidade da colheita atgrasa ainda mais o plantio da segunda safra de milho, a qual também está sendo empurrada para fora da janela ideal de cultivo.
Além dos fundamentos, atenção também ao financeiro e ao comportamento do petróleo. A commodity tem mais um dia de boas altas no mercado internacional, com o WTI fechando acima dos US$ 66,00 por barril nesta sexta-feira.
“O petróleo está puxando as commodities, principalmente a soja e o milho, por conta do etanol e do biodiesel”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
Mais do que isso, o especialista alerta ainda para uma proteção e um ajuste de posições por parte dos traders diante do final de semana que antecede o novo boletim mensal de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), que chega em 9 de março, próxima terça-feira.
O programa de exportações americanas já muito adiantado, com 60 milhões de toneladas já comprometidas pelos EUA de um total estimado para exportações de 61,24 milhões de toneladas.
E as primeiras expectativas são de que novas reduções apareçam, principalmente, nos estoques norte-americanos. “E com isso, o mercado hoje está um pouquinho mais protegido, tentando se firmar, no maio, acima dos US$ 14,00 por bushel”, diz.
O clima nos Estados Unidos é outro fator importante. O frio intenso continua por lá, dando menos condições para os primeiros trabalhos de campo prestes a se iniciar o plantio da safra 2021/22 em algumas regiões.