Sem commodities, IPCA ficaria na meta, diz Itaú

Aumento de matérias-primas deve ser maior vilão para estouro do objetivo para inflação em 2021.

A pressão de commodities deve ser a maior vilã da inflação em 2021 e, não fosse o choque vindo do aumento das cotações de matérias-primas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) poderia terminar o ano sem ultrapassar o teto da meta, de 5,25%.
A avaliação é do Itaú Unibanco, que projeta alta de 5,3% para o indicador oficial de inflação no ano corrente.

Do desvio de 1,6 ponto percentual em relação ao alvo central definido para o ano, de 3,75%, 1,9 ponto será explicado pela valorização das commodities, estima a economista Julia Passabom. A magnitude prevista para o estouro da meta é 0,3 ponto inferior porque outros componentes serão desinflacionários e acabam mitigando parte pequena desse impacto, nota Julia.

A análise é semelhante a um exercício feito pelo Banco Central. No Relatório de Inflação do primeiro trimestre de cada ano, a autoridade monetária usa uma decomposição alternativa para explicar quais motivos levaram o IPCA a ficar abaixo ou acima da meta estipulada para o ano anterior. Para 2020, por exemplo, quando o índice subiu 4,52% – 0,5 ponto acima da meta de 4% -, o BC calcula que o maior responsável pelo desvio foi o choque de alimentos, com contribuição de 1,65 ponto.

No modelo do Itaú, as influências sobre o IPCA de cada ano são separadas em inércia e expectativas inflacionárias, hiato do produto (uma medida do nível de ociosidade na economia), câmbio e commodities. Depois de excluídos todos estes fatores, a parcela de desvio do indicador ante a meta que não consegue ser explicada por nenhum deles é considerada um “resíduo”.

Em 2020 e 2021, os maiores “vilões” inflacionários têm características em comum, observa Julia. Enquanto, no ano passado, a “inflação importada”, que soma o efeito de commodities e repasse cambial, respondeu por 3,1 pontos do IPCA, neste ano, a contribuição somada dos dois é estimada em 2,7 pontos.

Em 2020, porém, a depreciação do real teve impacto inflacionário preponderante (2,5 pontos). Já neste ano, o aumento da cotação das matérias-primas ganhou protagonismo, enquanto o efeito do câmbio deve cair a 0,8 ponto, calcula a economista.

“Há um pouco de impacto inflacionário da depreciação do câmbio, mas a maior parte vem de commodities, principalmente do petróleo, que subiu bastante no começo do ano, e das commodities agrícolas”, aponta Julia.

Segundo a economista, o Itaú não vê o movimento atual como um novo “superciclo” de matérias-primas, uma vez que, com crescimento mais fraco da China daqui em diante, abaixo de dois dígitos, não haverá uma demanda sustentada do gigante asiático por esses itens como a observada no período de 2002 a 2011.

Na conjuntura atual, segundo Julia, as cotações de commodities agrícolas foram afetadas por problemas climáticos, que diminuíram as safras num momento de estoques mundiais de grãos em nível baixo. No caso do petróleo, também há gargalos de oferta que explicam os aumentos de preços, sobretudo no começo do ano, acrescenta ela.

“E isso ocorre num momento em que há reabertura maior da economia no mundo, com controle maior da pandemia. Por isso os mercados estão mostrando comportamento um pouco parecido”, comentou. De qualquer forma, destaca a economista, a dinâmica atual favorece preços mais elevados de bens básicos no curto prazo, o que acaba chegando na inflação ao consumidor.

No primeiro trimestre, observa ela, os combustíveis para veículos puxaram a aceleração da inflação, ao aumentarem quase 22% dentro do IPCA, refletindo os reajustes efetuados pela Petrobras nas refinarias.

Daqui para frente, tendo em vista a relativa estabilização das cotações do petróleo e o nível menos depreciado da taxa de câmbio, os preços de combustíveis devem “andar de lado”, mas não vão devolver toda a alta já observada ao longo do ano, afirma Julia. Por isso, serão importantes vetores de aceleração para a inflação anual. No cenário do Itaú, os preços administrados vão subir quase 8% em 2021, vindo de 2,6% em 2020.

“Por trás dessa alta, a gasolina deve subir cerca de 15%, e a parte de energia elétrica também vai pressionar mais a inflação do que o previsto anteriormente, porque agora prevemos que a bandeira tarifária vai terminar o ano em vermelho patamar 1”, explica a economista.

Outro impacto relevante das commodities sobre os preços ao consumidor ocorre via alimentos. Devido à surpresa para cima com a trajetória das matérias-primas, o Itaú elevou recentemente a projeção para a alta de alimentação no domicílio neste ano, de 6% a 9%. Segundo Julia, o IPCA vai subir de 0,31% em abril para 0,70% em maio, pressionado pelo aumento das contas de luz e também por alimentos mais caros, reflexo da alta de grãos como soja e milho.

“Teremos mais um ano de inflação de alimentos forte”, aponta a economista, para quem as altas maiores devem se concentrar nas proteínas. Ela ressalta, por outro lado, que o mercado de trabalho fraco e a redução das transferências de renda governamentais deixam o ambiente menos favorável a repasses. Em seus cálculos, o hiato do produto terá contribuição de baixa no IPCA em 2021, de -1,4 ponto.

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