Um grupo de 11 grandes companhias globais ligadas ao setor de alimentos, incluindo Nestlé, Danone, Carrefour e Tesco, comprometeu-se ontem a acabar com o desmatamento em suas cadeias de fornecimento e apoiou uma ação da União Europeia para impor rastreabilidade nas commodities importadas que entram no mercado comum.
Em comunicado, o grupo, que inclui empresas de toda a cadeia de valor – de fornecedores a fabricantes e varejistas -, diz que “o desmatamento continua em taxas alarmantes” e que o problema, além de ter impactos sobre o clima, também leva à perda de biodiversidade e acentua o crescente risco de pandemias.
Além de Nestlé, Danone, Carrefour e Tesco, assinam o comunicado Barry Callebaut (fabricante de chocolates), Jeronimo Martins, Kering, L’Occitane, Metro, Reckitt e Sainsbury’s.
O Brasil não é citado expressamente no comunicado, mas está sob forte pressão no exterior diante da percepção de que a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro é nociva. Nesse contexto, exportadores brasileiros tendem a enfrentar crescentes questionamentos sobre a origem e a qualidade de seus produtos.
O movimento das companhias antecede uma diretriz que a UE deverá lançar no mês que vem para proteger as florestas tropicais e incentivar o consumo de commodities de cadeias de abastecimento livres de desmatamento. Basicamente, será uma forma de responsabilizar as empresas importadoras na Europa pelos danos que vierem a ser causados por negligência em suas relações comerciais com terceiros países.
As medidas mais mencionadas para o plano de ação europeu dizem respeito a rotulagem ecológica, certificação e due diligence. A expectativa é que as principais commodities enquadradas como ameaças ao desmatamento das florestais tropicais sejam soja, gado (carne e couro), milho, café, cacau, óleo de palma e borracha.
Em seu comunicado, o grupo de 11 grandes companhias globais pede uma “ação ambiciosa” da UE com o “aumento da transparência e a rastreabilidade da cadeia de fornecimento de commodities que podem estar ligadas ao desmatamento”.
Os signatários pedem à UE que adote medidas para aumentar o uso de tecnologias inovadoras para melhorar a rastreabilidade da cadeia de suprimentos e uma cooperação mais estreita com os países produtores para garantir que as florestas sejam protegidas e restauradas.
As empresas destacam que, além de alcançar cadeias de fornecimento transparentes, é necessária uma melhor ação coletiva de empresas, governos e sociedade civil para acabar com o desmatamento. “Essa ação coletiva será incentivada se houver um conjunto claro de regras que impulsione as empresas a adotar ações impactantes para proteger os direitos humanos e o meio ambiente”, diz o grupo.
“Um diálogo mais intenso entre os principais países consumidores e produtores, assim como a orientação dos fluxos de financiamento e investimento para atividades e cadeias de fornecimento sustentáveis, serão essenciais para garantir um sistema de comércio internacional justo”, acrescentam.
O comunicado de ontem baseia-se em documento de posição conjunta subscrito em dezembro de 2020 por mais de 50 grandes empresas e organizações sem fins lucrativos. Nele, apelam para a UE enfrentar “diferentes fatores que impulsionam o desmatamento e impactam a subsistência dos agricultores e suas comunidades”.