A Argentina e o Uruguai confirmaram nesta quarta-feira (15) os primeiros focos de gripe aviária de alta patogenicidade em seus territórios. Em ambos os casos, a doença foi verificada em aves silvestres, que apareceram mortas em parques nacionais nos últimos dias. O governo brasileiro já está em contato com as autoridades dos países vizinhos para entender o risco de o vírus cruzar a fronteira.
Na segunda-feira, cinco cisnes de pescoço preto apareceram mortos na costa de Laguna Garzon, no Uruguai, com sintomas da doença. Exames laboratoriais confirmaram as suspeitas das autoridades sanitárias. Na Argentina, gansos andinos encontrados em Laguna de los Pozuelos, no norte da província de Jujuy, testaram positivo para a enfermidade.
“Não é uma surpresa”, disseram autoridades de ambos os países durante entrevistas coletivas para detalhar os casos e falar sobre medidas. “Análises de evolução epidemiológica mostravam a temida enfermidade presente em todos os continentes e avançando nas Américas do Norte e do Sul”, explicou o ministro da Agricultura e Pecuária do Uruguai, Fernando Mattos.
Sem embargo
A gripe aviária é uma doença altamente contagiosa que afeta aves domésticas e silvestres e pode causar grandes prejuízos aos criadores. O ministro da Agricultura do Uruguai explicou que, por se tratar de casos em animais silvestres, não haverá embargos às exportações de proteína.
“Estamos tomando as medidas necessárias para preservar a produção avícola, que é uma importante atividade social”, afirmou. “É uma ameaça maior às aves criadas em quintais, que normalmente não têm os mesmos níveis de biosseguridade das granjas comerciais.”
Mattos reforçou que as chances de a doença ser transmitida para humanos é baixa. Os dois casos registrados até hoje — em 2022 nos EUA e em 2023 no Equador — se deram por um contato muito próximo entre aves doentes e humanos. “A enfermidade não é transmitida a humanos pelo consumo da carne”, frisou.
Prevenção
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) segue acompanhando as ações de prevenção à gripe aviária no país após a confirmação de ocorrência de um caso da doença em ave silvestre no sul do Uruguai.
A entidade informou que está em contato direto com a Asociación de Productores Avícolas Sur (APAS), do Uruguai, junto aos representantes de demais organizações da América Latina. “A ABPA também está em contato direto com o Ministério da Agricultura do Brasil, monitorando o quadro junto às nações vizinhas. Cabe lembrar que o Brasil nunca registrou focos e segue livre da enfermidade em seu território”, disse a associação em nota.
Hoje, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse ao Valor que o caso da Argentina foi confirmado longe das divisas brasileiras. “A Bolívia, o Equador e o Peru já têm casos em granja comercial. A Argentina, não, o Uruguai, não, o Chile, não, e o Brasil nem em ave silvestre”, destacou.
Risco controlado
Apesar das rotas das aves migratórias ao Brasil, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Carlos Goulart, disse ao Valor recentemente que o risco de o vírus atingir granjas comerciais é “totalmente controlado”, devido ao alto padrão de biossegurança da avicultura brasileira e do Sistema Veterinário Oficial (SVO), que conta com mais de 3 mil profissionais habilitados.
Entre as medidas adotadas, a indústria proibiu visitas às granjas e unidades produtoras e estabeleceu um controle total do fluxo de aves e rações, com desinfecção de veículos, trocas de roupas e reforço às proteções nas propriedades contra aves migratórias.
Ainda assim, a aproximação da doença das fronteiras brasileiras preocupa produtores e exportadores. Se for registrado em granjas comerciais, o mal poderá gerar bloqueios aos embarques do país, ainda que temporários. A proliferação da gripe em outros exportadores favoreceu as vendas do Brasil no ano passado.