Iniciada em meio à pandemia de covid-19, a atual epidemia de gripe aviária já é tratada por cientistas como a maior da história da Europa. Uma nova variante do vírus, chamada gripe aviária A (H5N1), surgiu em 2020. Desde então, ela tem atingido não apenas aves selvagens, mas também algumas espécies de mamíferos, como visons, texugos, porcos e ursos.
Há vários tipos de gripe aviária que podem infectar aves. Um deles, o H5N1, surgiu em 1997 e, nas últimas duas décadas, foram registradas cerca de 850 infecções em humanos. Embora o número seja considerado pequeno, cerca de metade dos infectados morreu.
Em relação à variante gripe aviária A (H5N1), há registro de ao menos dez casos em humanos e uma morte. Já em animais, foram contabilizados 6.615 casos em 37 países, entre outubro de 2021 e outubro de 2022.
Desde outubro do ano passado, os pesquisadores observaram um total de 2.701 infecções em animais.
H5N1 causará a próxima pandemia?
Essa nova variante do H5N1 tem taxa de mortalidade de 50% e, por isso, autoridades de saúde pública mostram preocupação. Essa taxa é maior do que a de outros vírus que causaram recentes epidemias de gripe, como, por exemplo, a gripe suína H1N1, em 2009.
Cientistas afirmam que se essa nova cepa encontrar uma maneira de se espalhar eficientemente entre seres humanos, o resultado pode ser catastrófico. Mas, até o momento, os pesquisadores dizem que a probabilidade de que isso aconteça ainda é muito baixa.
De acordo com Richard Pebody, chefe do Grupo de Patógenos de Alta Ameaça da Organização Mundial de Saúde (OMS) da Europa, todas as pessoas que testaram positivo para essa nova variante da gripe aviária tiveram contato próximo com aves selvagens.
“Essas pessoas trabalham com avicultura e se envolveram no abate [de aves] ou tiveram contato com bandos em uma área externa”, resume Pebody.
Isso sugere que o risco de contrair o vírus é maior para quem tem contato próximo com aves doentes.
Risco de se espalhar entre humanos
Para que a variante H5N1 da gripe aviária se espalhasse amplamente, ela teria que se adaptar à capacidade de infectar facilmente seres humanos. E, até agora, não há nenhuma evidência que indique que ela tenha encontrado uma maneira de fazer isso.
Mas os pesquisadores tem expressado uma certa preocupação pelo fato de o vírus estar começando a se espalhar entre outros mamíferos.
Em outubro de 2022, um grande surto ocorreu em uma fazenda com 52 mil visons na Galícia, Espanha. Especialistas que analisaram o fenômeno disseram que é possível que o vírus tenha se espalhado entre os próprios animais.
Os pesquisadores disseram, no entanto, que é difícil identificar exatamente como o vírus se espalhou, por ser complicado determinar se todos os visons haviam sido expostos à doença através de algum alimento, por exemplo, ou se o vírus, de fato, se alastrou entre os animais – ou ainda uma mistura dessas duas possibilidades.
Adaptação do H5N1 em mamíferos é sinal de alerta
Segundo Pebody, a propagação do vírus entre os visons é um sinal de alerta. “Os humanos também são mamíferos. Portanto, se o vírus sugere uma adaptação a mamíferos – sua capacidade de propagação em um hospedeiro mamífero –, isso é apenas um passo mais próximo de ter características biológicas mais atraentes para a propagação entre humanos”, acrescenta.
Cientistas monitoram de perto todos os grandes surtos do vírus entre os mamíferos para entender como ele está se espalhando e evoluindo. Neste mês, autoridades relataram um surto no Peru, onde milhares de leões marinhos – até 3% de toda a população – haviam morrido de H5N1.
Por isso, pesquisadores buscam identificar qualquer potencial propagação do vírus entre os próprios animais.
Aves frequentemente contraem gripe, mas a variante H5N1 tem sido especialmente mortal. Pesquisadores estimam que mais de 60 milhões de aves selvagens morreram devido ao vírus ou a um abate no ano passado – quando uma única ave contrai o vírus, os criadores são obrigados a matar a criação inteira.
Como se proteger
Para quem não trabalha em contato direto com aves, a melhor maneira de se proteger, segundo Peabody, é evitar pegar pássaros na rua. Ainda assim, conforme o especialista, o risco é baixo.
“É importante destacar que milhões de aves morreram e estamos vendo apenas um pequeno número de casos em humanos. Portanto, no momento, o risco continua relativamente baixo. Mas há um risco”, afirma Pebody.
Ele acrescenta que quem trabalha com avicultura ou têm galinhas ou galos em seus quintais deve usar equipamento de proteção ao lidar com os animais.
De acordo com a OMS, o período de incubação após uma infecção com a gripe aviária A (H5N1) é de dois a cinco dias, em média, mas os sintomas podem demorar até 17 dias para aparecer.
Segundo Pebody, uma vacina para humanos já está sendo desenvolvida por pesquisadores.
Se você teve contato com aves mortas ou doentes e desenvolver sintomas respiratórios, entre em contato com seu médico e com as autoridades sanitárias locais, faça exames e busque orientação sobre o tratamento antiviral.