Por que os casos de gripe aviária em aves de subsistência cresceram em julho

No mês passado, governo confirmou oito focos da doença, sendo sete em aves não comerciais.

Em julho, o Brasil registrou um aumento expressivo nos focos de gripe aviária em aves de subsistência, aquelas de criações domésticas. Esse quadro ligou o alerta do setor avícola para a necessidade de reforçar as medidas de biossegurança para evitar que a doença volte a afetar granjas comerciais, como ocorreu em maio, no Rio Grande do Sul, episódio que ainda gera embargos de alguns países ao frango brasileiro.

Dos oito focos de gripe aviária de alta patogenicidade (H5N1) confirmados no Brasil em julho pelo Ministério da Agricultura, sete foram em aves de subsistência e um em animal silvestre. Esse é o maior número de focos em aves de criação doméstica desde o início do levantamento, em junho de 2023. De lá até agora, foram confirmados 185 focos no Brasil.

or que, afinal, cresceram os focos em aves de fundo de quintal? Segundo Luizinho Caron, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, isso acontece porque mudou a rota feita pelas aves migratórias e também a espécie que faz o trajeto, em relação aos dois últimos anos.

“Nas duas últimas temporadas, as aves que migraram do Hemisfério Norte para cá [Hemisfério Sul] passaram principalmente pela rota do Atlântico. Eram aves da espécie trinta-réis, que transitam por zonas costeiras. Agora, as aves que rumam para o Hemisfério Norte são limícolas, presentes em lagos e rios. Esses animais estão utilizando a rota do Mississipi, se deslocando mais pelo interior do continente”.

De acordo com o pesquisador, as aves limícolas têm maior predisposição para carregar o vírus da gripe aviária. Entre as aves dessa espécie, o quero-quero está entre as mais populares. “Não dá para dissociar a presença do vírus trazido pelas aves migratórias nessas aves de subsistência. É muito difícil evitar esse contato entre as espécies num país de dimensões continentais como é o Brasil”, diz Raphael Lucio Andreatti Filho, professor de Ornitopatologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP).

Gripe avançou em grandes centros
Não é apenas no interior do Brasil que a presença do vírus cresceu. Pela primeira vez, o H5N1 chegou aos grandes centros. Alguns casos ganharam destaque, após a confirmação de aves infectadas em locais como o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, no BioParque, no Rio de Janeiro, e no Zoológico de Brasília.

“As aves migratórias enxergam esses locais como uma espécie de resort. Por lá, elas têm um lugar agradável para pousar, com ampla disponibilidade de água e comida. Isso acarreta um risco maior para as demais aves que pertencem ao local”, afirma Andreatti Filho.

Ceron diz que há grandes chances de as aves limícolas terem sido as responsáveis por levar o vírus aos zoológicos de Brasília e do Rio.

Ainda que a gripe aviária esteja se espalhando longe de zonas de produção avícola comercial, o risco de o vírus chegar a esses estabelecimentos é maior devido ao crescimento dos focos em aves de subsistência, dizem os especialistas.

“É claro que, com a maior presença do vírus no meio ambiente, também aumenta a facilidade do contato, mesmo que de forma indireta”, acrescenta Ceron.

Segundo Andreatti Filho, a transmissão involuntária da doença pode acontecer entre os próprios criadores de aves. “Muitas vezes o vírus se dissemina porque ele ficou na roda do carro ou na sola do sapato do avicultor”, diz.

Em março, portaria do Ministério da Agricultura suspendeu por 180 dias a realização de exposições, torneios, feiras e outros eventos com aglomeração de aves, para mitigar o risco de disseminação do vírus da influenza na avicultura.

Mas Andreatti Filho reforça a dificuldade de monitorar de forma eficaz a produção brasileira. “O Brasil é um país muito grande, com muitas criações de fundo de quintal. (…) Há uma dificuldade enorme de fiscalizar todos os plantéis de quintal”.

Medidas de prevenção

É consenso entre os pesquisadores que o ideal é redobrar a atenção e manter todos os cuidados já estabelecidos pelo governo, como a rápida identificação dos sintomas e isolamento de aves em caso de contaminação. Como ocorreu com o foco na granja comercial de Montenegro (RS), em maio.

Essas medidas devem ser adotadas independentemente da espécie, já que a gripe em aves de subsistência também pode prejudicar o comércio brasileiro. No final de julho, o governo do Japão anunciou a suspensão temporária das importações de carne de frango, ovos e derivados provenientes do município de Quixeramobim (CE), após a confirmação de um foco de influenza em uma ave de quintal.

“Apesar do desafio territorial, o ministério e as secretarias de Defesa Animal estão fazendo um grande trabalho de prevenção e pesquisa, pois dentre os grandes players da avicultura, o Brasil foi o último a ter problemas com a gripe aviária. Quando a gente faz a comparação com os Estados Unidos, que é um outro grande produtor [de carne de ave], eles têm o problema há muito mais tempo do que nós, e estão lidando com ele inclusive na avicultura comercial, enquanto nós tivemos problema só agora” avalia o professor da Unesp.

Desde junho, quando a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) confirmou que o foco de Montenegro estava encerrado, o Brasil tenta retomar mercados estratégicos para o frango. Até o momento, compradores como China e União Europeia mantêm embargo total ao produto brasileiro.

Procurado para comentar o aumento de focos de gripe aviária em aves de subsistência, o Ministério da Agricultura não se pronunciou até a publicação desta matéria.

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