A escalada das cotações vai impactar as margens do agricultor a partir de 2022, mas melhoras logísticas e os preços internacionais elevados das commodities poderão limitar a redução, avaliaram os participantes do evento.
Indústrias como a Mosaic Fertilizantes, uma das maiores fornecedoras do mundo, não enxergam risco para os negócios. “Não acreditamos em mudança significativa na demanda geral, porque os preços [das commodities] ainda podem encorajar os agricultores a usar fertilizantes”, disse Corrine Ricard, presidente da companhia.
Para ela, o real desafio para o consumo de fertilizantes será para as agriculturas de subsistência mundo afora. Alzbeta Klein, diretora da International Fertilizer Association (IFA), divide a leitura. Klein disse, ainda, que três classes de fatores “disruptivos” afetaram o segmento em 2021, levando a altas históricas de preços de nutrientes.
São eles os eventos relacionados ao clima, que afetaram unidades produtoras nos Estados Unidos; a disparada de preços de energia, como a do gás natural (matéria-prima para nitrogenados e fosfatados); e decisões políticas em países fornecedores.
Por isso, os movimentos de Rússia, China e Belarus estão no radar dos brasileiros. A Rússia estabeleceu, recentemente, cotas de exportação para nitrogenados e fertilizantes especiais, com o fim de assegurar o fornecimento em seu mercado interno.
Como a Rússia fornece 20% do que o Brasil consome em adubos, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, foi ao país, na semana passada, conversar com autoridades e empresas para garantir o cumprimento de contratos. A medida do governo russo deverá valer a partir de dezembro.
Há cerca de duas semanas, a ministra também conversou com um representante da Belaruskali que esteve no Brasil. A estatal de Belarus é uma das maiores exportadoras de potássio do mundo, e as sanções aplicadas neste ano àquele país pelos Estados Unidos e pela União Europeia podem trazer reflexos às importações pelo Brasil.
A ministra disse no congresso da Anda que vai em dezembro ao Canadá, país que também é um fornecedor importante, sobretudo de potássio. Por causa das dificuldades que surgiram no cenário global após a pandemia — não apenas para adquirir fertilizantes —, o ministério vai criar um grupo temático para discutir questões relacionadas a insumos.
A ministra afirmou, ainda, que as preocupações relacionadas à normalidade de fornecimento de insumos não envolvem ciclos produtivos no curto prazo, e as ações estão sendo tomadas de olho na safra 2022/23.
Em outra frente, o governo prepara o Plano Nacional de Fertilizantes, com o intuito de reduzir a dependência externa. O Brasil importa cerca de 85% dos adubos que consome. Guilherme Bastos, secretário de Política Agrícola do ministério, disse que lançamento “ocorrerá em breve”.
Preocupações e iniciativas à parte, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcelo Britto, não acredita em falta de insumos. “Vai ficar mais caro”, disse. “Me preocupa a situação dos pequenos e médios produtores”, acrescentou. Britto alertou para o momento de produtores de culturas perenes, como café e cana, que terão de tomar decisões para a compra de insumos quando a visão dos preços das commodities em dois ou três anos ainda é opaca. “Há um desequilíbrio entre oferta e demanda mundial”, comenta.
Margens
A alta de insumos vai pesar no bolso do agricultor brasileiro, mas a produção continuará competitiva em relação à dos EUA. Os americanos também são importantes fornecedores globais de grãos como soja e milho. A avaliação é de Carlos Cogo, consultor da Cogo Inteligência em Agronegócio.
De acordo com uma simulação apresentada por ele, se o produtor brasileiro de soja tomasse a decisão, hoje, de comprar fertilizantes para a próxima temporada, gastaria duas vezes e meia a mais do que investiu na safra cultivada em setembro deste ano. No plantio atual, o agricultor precisou de 6,4 sacas de oleaginosa para comprar adubo para 1 hectare.
“Apesar disso, ainda haveria margem líquida positiva”, disse Cogo. “Mesmo no pior ambiente possível, o produtor brasileiro ainda tem rentabilidade maior do que o produtor norte-americano”, continuou. A causa para isso é logística favorável. O escoamento das exportações brasileiras pelos portos do Arco Norte cresceu 483% em dez anos. O cenário reduz a vantagem dos Estados Unidos em comparação ao que sai do Cerrado brasileiro.
Em linha com as avaliações apresentadas sobre a evolução da logística no país, o coordenador do Centro Insper Agro Global, Marcos Jank, disse que houve melhoria em rodovias e ferrovias — destacando o uso da ferrovia Norte-Sul, que deverá estar operacional entre Santos e Itaqui. “Em breve teremos a chegada das ferrovias ao centro do Mato Grosso, talvez com 50 anos de atraso”, afirmou.