Cama para aves: variáveis a serem observadas

Introdução

A cama desempenha funções essenciais, como a absorção de umidade, diluição das excretas, redução do contato direto das aves com os resíduos, fornecimento de isolamento térmico em relação à temperatura do piso e proteção física do corpo das aves em relação ao solo dos aviários.

Os materiais predominantes utilizados como cama em aviários são a maravalha de pinus, casca de arroz e serragem. A maravalha de madeira é o substrato mais frequente e preferido pelos produtores. No entanto, sua disponibilidade, dependendo da região, pode ser comprometida, o que resulta em um aumento de custos e em menor viabilidade econômica.

Para melhorar a qualidade da cama, estratégias de tratamento são avaliadas com o objetivo de reduzir o pH, garantir as características físico-químicas (umidade, temperatura, concentração de nitrogênio) e microbiológicas, com o objetivo de contribuir com o conforto das aves, o desempenho zootécnico e o sanitário.

Portanto, garantir que a cama das aves tenha características adequadas quanto à umidade, temperatura, pH e microbiologia, garante um melhor desempenho ao lote de aves alojado.

 

Umidade

A umidade presente na cama representa um fator crucial na criação das aves, uma vez que exerce impacto direto na prevalência de enfermidades e lesões na carcaça. Diversos elementos podem aumentar a umidade na cama, tais como o tipo de substrato empregado, o modelo de bebedouro, as práticas de manejo da cama e a densidade populacional das aves.

É recomendado que os níveis de umidade na cama estejam na faixa de 20 a 35%. Uma cama com um índice de umidade inferior a 20% pode resultar no aumento da concentração de poeira dentro da instalação, que causa irritação no sistema respiratório das aves e predispõe ao desenvolvimento de infecções. Por outro lado, o excesso de umidade na cama, isto é, um índice superior a 35%, pode acarretar problemas de saúde e de bem-estar nas aves, aumento da incidência de lesões no peito, queimaduras na pele, pododermatites, perda de qualidade nas carcaças e condenações.

O excesso de umidade nos aviários é motivo de preocupação, pois está associada ao bem-estar animal, à saúde dos lotes, à segurança alimentar, à emissão de gases, aos impactos ambientais e à redução na eficiência do processo de produção.

Aves submetidas a uma cama com umidade superior a 46% apresentam queimaduras no tarso metatarso e dermatites de contato. Esse fenômeno é atribuído à superfície da cama estar úmida e compacta, resultando em lesões devido ao contato contínuo das aves com esse material.

A dimensão das partículas também influencia na absorção de umidade e compactação da cama. Materiais compostos por partículas menores têm uma capacidade superior de retenção de umidade, em comparação com aqueles que possuem partículas maiores. No que diz respeito à compactação, fatores como a umidade da cama, o pisoteio das aves, o gotejamento de água devido a problemas nos bebedouros e o desperdício de ração nos comedouros contribuem para a compactação da cama, levando à formação de crostas e placas que prejudicam tanto a saúde, quanto o desempenho zootécnico do lote.

Uma das principais preocupações relacionadas a uma cama com elevados níveis de umidade é o aumento dos níveis de amônia na instalação. A alta umidade, associada a alta temperatura e ao pH alcalino favorecem a volatilização da amônia, além da proliferação de fungos e bactérias indesejáveis.

 

Amônia

A amônia é um gás incolor, conhecido por ser irritante para o trato respiratório. Sua formação ocorre a partir da decomposição microbiana do ácido úrico eliminado pelas aves, mediante a níveis ideais de umidade, temperatura e pH.

Uma das principais consequências adversas desse gás é que aves expostas a concentrações elevadas de amônia podem sofrer lesões no sistema respiratório, podendo resultar em infecções secundárias. A amônia não apenas causa danos nas mucosas respiratórias, mas também afeta as mucosas oculares, exercendo efeitos tóxicos sobre o metabolismo fisiológico das aves após o contato.

Mesmo considerando teores baixos de amônia, é a partir de 10 ppm que se inicia a deterioração dos cílios do epitélio traqueal das aves, acima de 20 ppm se observa uma maior vulnerabilidade às enfermidades. Quando a quantidade de amônia inalada ultrapassa 60 ppm, as aves ficam predispostas a doenças respiratórias, o que aumenta a suscetibilidade a riscos de infecções secundárias após vacinações. Quando o nível de amônia no ambiente atinge 100 ppm, ocorre uma redução na taxa e profundidade da respiração, dificultando os processos fisiológicos de trocas gasosas. Esses elevados níveis de amônia (60 a 100 ppm) podem ser observados no início da criação.

É recomendado que os níveis de amônia dentro dos aviários estejam abaixo de 10 ppm, para assegurar isso, a medição da concentração deve ser realizada ao nível da altura das aves. Os níveis elevados de amônia podem resultar em queimaduras nos coxins na região plantar, conhecidos como calos; irritação ocular; irritações na pele; calos no peito; perda de peso; falta de uniformidade no lote; maior suscetibilidade a doenças e até mesmo cegueira.

Na produção de frangos de corte, é raro encontrar valores abaixo de 10 ppm de amônia. Pelo contrário, se não for realizado o manejo correto para a reutilização da cama, os níveis podem atingir valores elevados, variando de 60 a 100 ppm.

A adição de substâncias ou compostos à cama pode favorecer o aumento na fixação do nitrogênio por meio de reações químicas, constituindo uma alternativa para reduzir as perdas de nitrogênio pela volatilização da amônia.

Apesar dos efeitos negativos da amônia quando presente em níveis elevados para as aves, é importante destacar que ela desempenha um papel significativo no controle de microrganismos que se desenvolvem na cama.

 

Temperatura da cama

A produção de calor proveniente do corpo das aves acelera o aquecimento da cama, a evaporação dos compostos, aumenta a taxa de atividade microbiana e de volatilização da amônia, tornando o odor mais intenso.

Em condições ideais de produção, a temperatura da cama deve se aproximar da temperatura ambiente do aviário, o que promove condições de bem-estar para as aves. A temperatura da cama representa importância no manejo e no desempenho produtivo das aves, além de garantir bem-estar das aves.

Nos primeiros dias de vida da ave, durante a fase de alojamento, a temperatura adequada da cama é crucial, uma vez que esses animais ainda não possuem a capacidade de regular sua própria temperatura. O sistema de termorregulação estará completamente desenvolvido apenas a partir dos 14 dias de idade. Portanto, os pintos dependem inteiramente da temperatura da cama e do ar, e se essas temperaturas estiverem baixas afetarão a temperatura corporal, o que pode acarretar aglomeração. Isso, por sua vez, resulta na diminuição da ingestão de água e ração, que impacta negativamente o desempenho zootécnico e deixa as aves mais susceptíveis a enfermidades.

Durante a fase inicial das aves, a temperatura da cama deve ser mantida entre 30 a 32 ºC, esse valor somente será alcançado se houver um sistema de aquecimento eficiente no interior da instalação. Uma maneira de verificar o conforto térmico das aves e a temperatura da cama é por meio do toque nos pés das aves; se estiverem frios, isso indicará uma temperatura corporal baixa. A aglomeração e a baixa atividade das aves também são sinais de que estão sentindo frio.

Quando a temperatura da cama é 7°C menor que a temperatura ambiente, há uma resposta negativa para o ganho de peso das aves, principalmente na primeira semana de vida, podendo persistir até os 20 dias de idade. Em aves com mais de 20 dias, é crucial monitorar o aumento da temperatura da cama, acima da temperatura ambiente, pois a produção significativa de calor do corpo das aves em contato com a cama pode favorecer o estresse térmico e as aves entrarem em processo de alcalose respiratória.

 

Potencial hidrogeniônico (pH)

Para camas novas o pH é levemente ácido, no entanto, com a incorporação das excretas das aves e o subsequente desdobramento do ácido úrico em amônia, ocorre gradualmente a alcalinização do meio. Após o primeiro lote de aves, a cama entra em uma fase de estabilização do pH, variando entre 8 e 9, valores propícios para a proliferação da maioria das bactérias preocupantes na avicultura, como Salmonella e Campylobacter.

Portanto, é importante que durante a criação das aves e no preparo da cama para reutilização, sejam feitos manejos para que ocorra a redução do pH, com o objetivo de diminuir a concentração de bactérias e reduzir a volatilização de amônia. Manter o pH da cama em níveis ácidos pode ser benéfico para as aves, mas é uma condição difícil de ser alcançada devido à constante incorporação das excretas. Em contrapartida, elevar o pH para a faixa de 12 a 13 durante o vazio sanitário é interessante, pois a alcalinidade é desfavorável ao desenvolvimento bacteriano, em parte devido alta volatilização da amônia.

A manipulação do pH na cama pode ser realizada mediante a adição direta de produtos, com o intuito de torná-la mais ácida ou alcalina, a ponto de inibir os níveis de multiplicação bacteriana. A redução do pH por meio do uso de acidificante (método químico) pode proporcionar resultados eficazes na inibição de bactérias patogênicas presentes na cama. A inclusão de 5% de ácido cítrico na cama reduziu o pH para 5,0, demonstrando um efeito redutor na carga bacteriana da cama. A manutenção do pH próximo a 5,5 por meio da adição de gesso agrícola, sulfato de alumínio ou cal hidratada pode contribuir para a não degradação bioquímica do ácido úrico presente na cama e para a redução da volatilização da amônia.

 

Microrganismos presentes na cama

Os excrementos e a cama das aves naturalmente contêm uma microbiota. A composição dessa microbiota poderá definir a colonização do trato gastrointestinal das aves. Portanto, se atentar aos tipos de microrganismos presentes na cama representa um fator importante para o desempenho das aves.

 

Microrganismos benéficos

Em uma cama reutilizada, o acúmulo de bactérias não é necessariamente prejudicial para as aves, uma vez que grande parte desses microrganismos compõe a microbiota natural do trato gastrointestinal das aves. Entre as principais bactérias benéficas presentes na cama, destacam-se aquelas dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium.

Um manejo inadequado da cama pode resultar em problemas entéricos para as aves, decorrentes do aumento de microrganismos patogênicos, tornando-as mais suscetíveis ao desenvolvimento de outras doenças. As condições da cama têm um impacto significativo na microbiota intestinal, especialmente nas fases iniciais, pois os microrganismos presentes no intestino das aves recém-alojadas provêm principalmente das bactérias presentes no material de cama.

Quanto ao gênero Lactobacillus, suas bactérias são gram-positivas, com células longas e delgadas, ocasionalmente apresentando formato de bastões curtos. Seu pH ideal varia de 4,5 a 6,4 em meio ácido fraco, e seu metabolismo fermentativo produz principalmente lactato, além de etanol, dióxido de carbono, formiato e succinato.

Essas bactérias são predominantes em todos os segmentos do intestino e desempenham funções benéficas, como o estímulo à imunidade por meio da secreção de imunoglobulina IgA intestinal. Além disso, a secreção de lactato, acetato, succinato e etanol por Lactobacillus auxilia na proliferação de outras bactérias benéficas, que reduz o pH e limita a multiplicação de bactérias patogênicas, como Escherichia coli, Salmonella spp. e Campylobacter spp.

Já o gênero Bifidobacterium compreende aproximadamente 30 espécies, sendo bactérias gram-positivas, anaeróbias estritas, não formadoras de esporos, sem flagelos e com morfologia variável. Seu crescimento ocorre em uma faixa de temperatura entre 37 a 41ºC, com pH entre 6 a 7. Os Bifidobacterium spp. apresentam efeitos benéficos, como a ativação da proliferação de macrófagos, auxílio na digestão e absorção de nutrientes, produção de bacteriocinas inibidoras de patógenos, redução do pH e estímulo à produção de vitaminas do complexo B, além de auxiliar na restauração da microbiota após tratamento com antibióticos.

 

Microrganismos patogênicos

Dentro do grupo de bactérias presentes na cama, as mesófilas aeróbias agrupam grande quantidade de bactérias patogênicas de origem alimentar, o que representa risco para a saúde do consumidor. Os microrganismos mesófilos são relevantes devido ao seu crescimento ótimo em temperaturas variando entre 25 e 40ºC, faixa comum na superfície terrestre e no organismo animal.

No contexto das bactérias patogênicas, destaca-se Salmonella spp. Este grupo de bastonetes gram-negativos, pertencentes à família Enterobacteriaceae, é anaeróbio facultativo, móvel na maioria das vezes, com flagelos peritríquios, e sua multiplicação ocorre em temperaturas de 5 a 46 °C, com uma temperatura ótima de 35 a 37 °C. Seu crescimento é favorecido em pH entre 3,8 e 9,5, sendo 7 o pH ideal. A Salmonelose, é uma zoonose de grande importância para a saúde pública e animal, frequentemente relacionada a processos entéricos e septicêmicos, causando consideráveis prejuízos econômicos na criação de aves.

Outro gênero relevante é Escherichia coli, responsável por morbidade e mortalidade em aves, o que acarreta perdas econômicas na indústria avícola. E. coli é um bacilo gram-negativo não esporulado, móvel na maioria das vezes, e sua presença na microbiota intestinal é comum. A espécie se destaca como indicador de contaminação fecal em alimentos e pode adquirir resistência a antimicrobianos, o que representa riscos para a saúde humana e animal.

Pseudomonas spp., bacilos gram-negativos, aeróbios obrigatórios, são considerados patógenos oportunistas que causam infecções em organismos imunodeprimidos. Presentes no ambiente, água, solo e em superfícies diversas, essas bactérias têm papel relevante na deterioração de carne refrigerada.

 

Considerações finais

Portanto, as práticas de manejo devem abranger a capacidade de regular a umidade da cama, controlar a presença de amônia, minimizar a formação de poeira, gerenciar agentes patogênicos e evitar a propagação de insetos. Todos os fatores relacionados à qualidade no manejo, tanto no que diz respeito às aves quanto às instalações, devem ser cuidadosamente monitorados. Isso é essencial para prevenir situações indesejáveis que podem comprometer a qualidade da cama e o desempenho do lote de aves ao longo do processo produtivo.

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