Projeções de avanços modestos nas áreas plantadas dos EUA dão sustentação a mercados
Divulgadas na semana passada, as estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a área de plantio de grãos no país na próxima safra (2021/22) surpreenderam o mercado por um conservadorismo considerado acima do habitual, e ajustes para cima são esperados nos próximos relatórios do órgão. O fato é que, por menor que seja a disponibilidade de terras maduras aptas para cultivo nos EUA, a demanda da China segue forte tanto por soja quanto por milho e trigo, e não há nada no horizonte que dê indícios de um arrefecimento.
“Os chineses estão comprando qualquer grão e derivado com os quais seja possível fazer ração para animais e, com a produção atual brasileira praticamente inteira comprometida, tudo indica falta de soja em julho, por exemplo. Isso deve manter os preços elevados e levar o produtor americano a plantar mais”, afirma Steve Cachia, analista e consultor da Cerealpar e da TradeHelp.
Segundo o analista, mesmo que os preços não subam, os atuais patamares de US$ 6 por bushel para o milho e US$ 13 por bushel para a soja são altamente recompensadores para os americanos, levando em consideração que representam uma alta de 13%, no caso do milho, de 25% para a soja em um ano. “Os custos de produção podem ter subido, mas nada parecido com isso”.
Para Cachia, até mesmo as notícias de novos casos de peste suína africana na China não são preocupação para o mercado. “Tenho certeza de que, após ter sido surpreendido há dois ou três anos com a disseminação da doença, o governo chinês não deixará mais o caso se repetir. A demanda deve continuar elevada”.
Sobre as áreas de produção estarem possivelmente perto do limite nos EUA, Cachia explica que os agricultores americanos não costumam plantar até o último lote da terra, como fazem os brasileiros. “Em cada fazenda há sempre uma sobra, e vamos ver os números de plantio subirem com certeza a cada mês até a colheita”, afirma. A produção de soja nos EUA pode crescer até 8% na comparação com a safra atual, segundo o analista, e a de milho, até 3%.
No último dia 31, o USDA divulgou que a área com soja nos EUA no ciclo 2021/22 deve chegar a 35,5 milhões de hectares, enquanto a média das apostas do mercado era de 36,4 milhões de hectares. No caso do milho, o órgão indicou 36,9 milhões de hectares; a expectativa era de 37,8 milhões de hectares. Para o trigo, a sinalização foi da quarta menor área desde 1929, com 18,7 milhões de hectares em 2021/22, apenas 5% maior que a da atual temporada.
A consultoria Céleres também avalia que o preço da soja pode chegar a US$ 16 por bushel, a depender do clima na safra 2021/22. Em relatório divulgado na terça-feira, a consultoria considerou três cenários para a temporada americana, que está em fase de planejamento. Em todos eles a área cultivada será de 35,5 milhões de hectares, 2,2 milhões a mais que no último ciclo. Mas a produtividade varia de 3,04 toneladas por hectare a 3,72 toneladas por hectare.
No pior cenário, que considera uma quebra de produtividade de 10% em 2021/22, os EUA terão que reduzir em 15 milhões de toneladas suas exportações de soja para garantir a oferta no mercado interno. Nesse cenário, a produção do país é projetada em 110,7 milhões de toneladas.
“Somando-se às importações globais aquecidas, esse cenário poderá favorecer os demais exportadores de soja, sobretudo o Brasil”, diz a Céleres, justificando a possibilidade de o preço da soja chegar a US$ 16 por bushel. Nas duas outras projeções, a produção americana pode alcançar 125,6 milhões de toneladas e 131,7 milhões, a depender do clima. Em 2020/21, os EUA colheram 112,5 milhões de toneladas de soja.
Assim como ocorre com a oleaginosa, a expectativa de apenas uma pequena elevação na área de cultivo nos EUA deixará o mercado de milho mais suscetível ao clima em 2021/22. Segundo a Céleres, ainda que mais confortáveis que os da soja, os estoques de milho nos Estados Unidos estão hoje em seu menor patamar dos últimos anos. Uma quebra de produtividade na safra 2021/22, somada a um consumo interno aquecido, poderá reduzir as exportações americanas do cereal.
Isso pode favorecer outros exportadores, como Argentina, Ucrânia e Brasil, e elevar os preços do milho na bolsa de Chicago. “As cotações do milho devem permanecer com viés de alta, com elevada sensibilidade ao mercado climático nos Estados Unidos e no Brasil”, avaliou a consultoria em relatório.
Com a área de plantio estimada pelo USDA, a Céleres desenha três cenários, com a produtividade variando de 9,72 a 11,87 toneladas por hectare. Com isso, a produção americana de milho pode variar de 326,7 milhões a 399,2 milhões de toneladas.