Ovos de aves e grão de bico, fontes alternativas de proteína à carne vermelha, foram mais buscados nas gôndolas dos supermercados em novembro, em comparação com o mês anterior. É o que aponta o Índice de Ruptura da Neogrid, indicador que mede a indisponibilidade de produtos nos varejistas brasileiros.
O índice geral do mês ficou em 11,3%, maior que os 10,8% registrados em outubro. A ruptura de ovos de aves, a mais alta entre os alimentos, ficou em 16,6% em novembro, diante de 16,1% em outubro. Já a do grão de bico disparou: foi de 8% em outubro para 14,7% mês passado. Ambos os produtos, por sinal, seguem uma tendência de alta nos últimos três meses. Já a cerveja, que vinha de quatro meses de uma crescente na indisponibilidade, registrou queda na ruptura (de 15,4% para 14,2%) no último mês.
Com novo recorde de inflação — segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), novembro teve alta de 1,17%, com 9,57% de acúmulo no ano — e sem pagamento de auxílio emergencial — a última parcela foi paga em 31 de outubro –, foi um mês de maior cautela por parte do varejo a partir desse cenário. É o que avalia Robson Munhoz, CCSO (Chief Customer Success Officer) da Neogrid.
“O varejo lê de forma muito clara os sinais de esfriamento da economia, especialmente quando o consumidor compra menos, com um poder de compra prejudicado. Nesse caso, a Ruptura aumenta não somente pelo consumo, mas porque o varejista está muito mais cauteloso e começa a se abastecer menos”, avalia.
Ovos: consumo em alta — Além do aumento da Ruptura em novembro, os ovos de aves apareceram com mais frequência na cesta de compras do consumidor também ao longo de 2021, complementa a Horus, empresa de inteligência de mercado com foco em dados de consumo, que recentemente recebeu investimentos da Neogrid e faz parte do seu ecossistema de negócios. A incidência no comparativo entre janeiro e novembro cresceu 2,2 ponto percentual.
Segundo a Horus, verificou-se ainda um crescimento no valor do ticket médio da categoria, em especial a partir dos meses de maio e de setembro. Em parte, esse é um comportamento relacionado à redução do poder de compra, o que leva o consumidor a escolher o ovo como uma proteína em substituição à carne bovina e ao frango, que têm registrado aumento de preços expressivos no período.
“O aumento do valor médio desembolsado na compra de ovos, associado a uma maior presença desse produto no carrinho de compras, indica uma tendência crescente no consumo dessa proteína, o que contribui para a falta desse produto na gôndola”, afirma Luiza Zacharias, Diretora de Novos Negócios da Horus.
Além da queda de poder aquisitivo de parcela significativa da população, novembro foi mais um mês de tendência de fim das restrições impostas pela pandemia e, com isso, de mudança de hábitos de consumo. “A retomada da alimentação fora de casa, em restaurantes e lanchonetes, por exemplo, faz com que as pessoas comprem menos alimento também nos supermercados — que acabam competindo com outros eventos na cidade. Isso faz o varejo também reavaliar seus estoques”, completa Munhoz.
No caso dos ovos e do grão de bico, a análise é a de que ambos, como fontes de proteína, acabam considerados na alimentação em substituição ou complemento à carne — que, mesmo com queda nas exportações, segue com os preços elevados.
Margarina e manteiga — Ainda de acordo com a Horus, outro item que revela a mudança de hábitos em meio à perda de poder aquisitivo é a margarina. A presença do produto nas cestas de compras cresceu 1,1 ponto percentual entre janeiro e outubro de 2021. Isso equivale a dizer que, em janeiro, a cada 100 carrinhos, 6,3 tinham pelo menos uma embalagem de margarina, enquanto, em outubro, esse número subiu para 7,4. Já com a presença de manteiga na lista de itens comprados não se verificou um crescimento relevante ao longo do mesmo período.
“A preferência do consumidor pela margarina pode ser explicada pela diferença de preço médio entre as categorias. No mês de novembro, o preço médio do quilo de margarina foi de R$ 11,37, valor 72% menor que o preço médio do quilo de manteiga, de R$ 17,22”, analisa Luiza Zacharias.