A irregularidade marcou e tem marcado a safra 2020/21 de soja do Brasil e problemas causados por adversidades climáticas ainda vem sendo registrados em diversas partes do Brasil. O plantio se atrasou em função da falta de chuvas e a colheita, portanto, também começa de forma mais efetiva um pouco mais tarde. Assim, a produtividade menor do que o inicialmente estimado é uma realidade em uma grande parte das regiões produtoras do país.
Ainda assim, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) trouxe seu número atualizado para a safra brasileira de soja em 133,7 milhões de toneladas, contra 134,45 milhões do boletim dezembro. A produtividade média é de 58,3 sacas por hectare – 3,6% maior do que há um ano – em uma área recorde de mais de 38 milhões de hectares. Mesmo justificado, o dado surpreendeu os produtores e os analistas e consultores de mercado.
“A Conab foi conservadora ainda”, disse o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz Pereira. “Nosso número continua sendo o de 129 milhões de toneladas. Vamos fazer um novo levantamento na semana que vem e, caso as chuvas continuem, esse número pode até subir um pouco”, diz.
Pereira afirma que as precipitações dos últimos dias permitiram uma melhora considerável das lavouras em áreas que vinham sofrendo com a falta de chuvas. No entanto, complementa dizendo que os problemas ainda e estão distribuídos. “Estamos acompanhando o Mato Grosso, que registrou muitas áreas de replantio, bem como partes de Goiás e Mato Grosso do Sul, onde as lavouras de soja não estão no mesmo padrão do ano passado”, explica.
Para alguns analistas e consultores ouvidos pelo Notícias Agrícolas, uma estimativa na casa de 130 milhões de toneladas seria um bom número para este reporte de janeiro, com a Conab já iniciando um ajuste da safra. Dessa forma, os números viriam dando uma espécie de ‘direção’ do potencial prejuízo desta safra, abrindo espaço para novas correções ao longo dos próximos meses.
E deste ponto de vista, o presidente da Aprosoja Brasil complementa dizendo que “a Conab sempre agiu assim, preferindo ir revisando os números aos poucos”.
E especialistas explicam ainda que estas estimativas “esticadas demais” acabam criando uma ambiente mais arriscado para a comercialização do que há realmente para ser comercializado. Atualmente, o Brasil já tem quase 75 milhões de toneladas de soja comercializadas e o tamanho da safra, ainda incerto.
No boletim divulgado nesta quarta, a Conab pontua sobre a oferta limitada no país. “Os estoques finais de soja deverão manter-se baixos por mais um ano, com isso, preços mais elevados no mercado interno para 2021”.
“Desde janeiro-2020 a CONAB não divulga o quadro oficial de oferta & demanda brasileira de soja, eles ainda continuam trabalhando nas revisões e nos dados de demanda”, lembra o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities. Ainda assim, a instituição trouxe também exportações estimadas em 85,7 milhões e o consumo interno variando enrre 45 e 49 milhões de toneladas, alimentado, principalmente, pelo aumento da produção de carnes e na demanda maior no setor do biodiesel, que deve passar do B12 para B13.
“Há uma inconsistência uma vez que o estoque final é negativo. Portanto, a CONAB deverá ajustar o histórico com dados de produção e consumo para adequar os estoques finais”, afirma Araújo, que acredita que a projeção de 133,7 milhões é bastante otimista e estima uma safra menor de 130 milhões de toneladas nesta temporada.
Na análise de Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, a projeção também veio bastante otimista e a safra 2020/21 está mais próxima dos 130 milhões de toneladas. “Teríamos que ter condições de clima muito boas nas próximas semanas para alcançar este nível dos 133,7 milhões de toneladas. Vamos ver como será o desempenho das colheitas, mas ainda se trata de um número muito otimista”, diz.
Para Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da Safras & Mercado, por outro lado, o número da Conab não está tão distante do que se observa nos campos brasileiros neste momento. “Acho que existem problemas na safra do Brasil sim, mas não são amplos. E acho que até este momento nossa safra não é inferior a 130 milhões”, diz.
O analista, todavia, pondera ainda que há algumas definições ainda a aparecer para a temporada, principalmente no Sul do Brasil, que poderiam vir a mudar este quadro. “Então, acho que está OK por enquanto, talvez um pouquinho acima do que estamos vendo. Então, vamos cuidar o clima nas próximas semanas que ele ainda é importante”, diz.
TEMPO X CONCLUSÃO DA SAFRA
Nas últimas 24 horas, 35% da área de soja do Brasil receberam chuvas, com volumes de 6,4 a 70,4 mm, de acordo com o levantamento do Commodity Weather Group (CWG). “As precipitações favoreceram o Brasil Central e alcançaram a maior parte das regiões produtoras no final de semana.
Agora, ainda de acordo com os meteorologistas do instituto internacional, a preocupação se dá com as lavouras de soja que ainda têm um caminho um pouco mais longo de desenvolvimento, especialmente no Centro-Oeste, uma vez que as previsões indicam chuvas abaixo da média para o período dos próximos 11 a 15 dias, de 23 a 27 de janeiro.
Entre 13 e 17 de janeiro, as chuvas deverão se mostrar dentro da normalidade, enquanto entre 18 e 22 deverão se mostrar abaixo da média em quase todo Rio Grande do Sul, partes de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia.