Metade dos consumidores brasileiros reduziu o consumo de proteínas animais no ano passado, mas a maioria não está disposta a pagar mais caro por um produto vegetal, de acordo com pesquisa realizada pelo Ibope a pedido da organização The Good Food Institute Brazil e que teve o apoio de 11 empresas do setor de alimentos.
A pesquisa foi feita com 2 mil pessoas a partir de 18 anos, selecionadas por cotas de gênero, idade e regiões do país, de todas as classes sociais. Das pessoas entrevistadas em 2020, 50% afirmaram que estavam diminuindo o consumo de proteínas animais e substituindo esses produtos por proteínas alternativas – encaixando-se, assim, entre os “flexitarianos”. O resultado representou um salto em comparação à pesquisa anterior, de 2018, quando 29% se enquadravam nesse perfil.
Desse grupo, 56% estavam consumindo, em 2020, frango pelo menos três vezes por semana, e 43% consumiam carne bovina. Quase metade das substituições (47%) era feita exclusivamente por legumes, verduras e grãos.
Porém, o custo da troca da proteína animal pela vegetal ainda é um entrave para a migração do consumo. Dos entrevistados, somente 36,5% manifestaram disposição em pagar mais por um produto vegetal análogo ao animal, enquanto 39% estavam escolhendo a opção de proteína mais barata, sem se importar com qual a origem (animal ou vegetal).
Ainda assim, há desejo dos consumidores pela proteína vegetal. A maioria dos entrevistados apontou em 2020 que preferia consumir alternativas vegetais em casa, seja ao cozinhar (62%) ou pelo delivery (44%).
Para Felipe Krelling, coordenador de engajamento corporativo do GFI Brasil, “há sempre que se concentrar esforços no que é essencial: sabor, aroma e textura semelhantes, preço competitivo, e que esses produtos tenham características de saudabilidade desejadas pelo consumidor”.
Em sua avaliação, o barateamento das proteínas vegetais virá com o desenvolvimento dessa indústria. “Existe uma dinâmica natural de mercado: o preço vai ficando mais competitivo à medida que a escala aumenta, o domínio das tecnologias é maior e conseguimos nacionalizar os ingredientes”, diz o especialista, em nota.
“A alimentação tem um aspecto cultural bastante forte, e a carne está inserida em muitas das tradições brasileiras como a feijoada, o churrasco de domingo, o peru no Natal, etc. Por isso, a mudança desses hábitos depende de a indústria conseguir desenvolver produtos que se insiram nessas situações, que promovam a experiência sensorial que o consumidor espera e os aspectos de saudabilidade que ele valoriza”, defende Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI, na mesma nota.