Rodrigo Garófallo Garcia. Mestre e doutor em Zootecnia, professor titular da Faculdade de Ciências Agrárias da UFGD, conselheiro do CRMV-MS e integrante da Comissão Nacional de Educação em Zootecnia, do CFMV
Rafael Noriller. Contador e professor da Faculdade de Ciências Contábeis e Econômicas da UFGD
Jean Kaique Valentim. Mestre e doutor em Zootecnia com ênfase em avicultura e pós-doutorando do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa
“Não se faz omelete sem quebrar os ovos” — e o ditado nunca fez tanto sentido diante da disparada no preço dos ovos no Brasil no início de 2025. A crise é resultado de uma combinação de fatores climáticos, econômicos e sanitários, exigindo soluções estruturais. Investir em pesquisa para linhagens de galinhas mais resistentes ao calor, diversificar as fontes de ração, modernizar a infraestrutura das granjas e diminuir a especulação são medidas essenciais para reduzir a volatilidade dos preços e garantir a estabilidade do setor.
O controle ambiental nas granjas, com climatização e ventilação adequadas, pode minimizar perdas causadas pelo estresse térmico. Alternativas na alimentação das poedeiras, como farelo de insetos e algas, ajudam a reduzir a dependência de milho e soja, impactados por crises globais. No âmbito governamental, linhas de crédito subsidiadas podem facilitar a adoção de tecnologias sustentáveis. Além disso, maior transparência na formação dos preços, com rastreabilidade da produção e combate à especulação, evitaria reajustes excessivos.
Ampliar a produção interna é essencial para equilibrar oferta e demanda. O incentivo a novos produtores e o fortalecimento de cadeias produtivas regionais, por meio de capacitação e suporte técnico, ajudariam pequenos e médios avicultores a expandirem seus negócios e aumentarem a oferta no mercado.
O preço dos ovos disparou devido a fatores climáticos, econômicos e sanitários. O calor extremo reduziu a postura das aves em até 25%, segundo a Embrapa Suínos e Aves, comprometendo a qualidade dos ovos. A seca e a guerra na Ucrânia elevaram o custo da ração, com o milho subindo 40%. O aumento dos combustíveis encareceu o transporte.
As exportações cresceram 57% em relação a 2024, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, agravando o desequilíbrio entre oferta e demanda, especialmente na quaresma. A gripe aviária em outros países reduziu a oferta global, levando o Brasil a aumentar suas exportações, impactando o mercado interno.
O tema repercutiu nas redes sociais e levou o governo a cogitar importar ovos, proposta criticada por riscos sanitários. Estabelecimentos como padarias e restaurantes reajustaram preços ou buscaram alternativas para minimizar os impactos ao consumidor.
A crise do ovo não se resolve com voo de galinha. A saída passa por inovação tecnológica e políticas eficazes para fortalecer o setor e estabilizar os preços. O Brasil tem condições de superar esse cenário, mas é essencial abandonar medidas improvisadas e adotar estratégias que tornem a avicultura mais resiliente e sustentável.