Em meio a um surto de gripe aviária e à recente detecção de mais uma cepa do vírus – a H7N9 – nos Estados Unidos, o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, Robert F. Kennedy Jr, sugeriu que avicultores e autoridades sanitárias deixem o vírus se espalhar para identificar quais animais seriam imunes. Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que a medida, se adotada, teria potencial para devastar a produção de frango e ovos dos Estados Unidos, além de elevar as infecções entre as espécies de aves e seres humanos.
No Brasil, as medidas de biosseguridade contra a entrada da doença seguem as mesmas e as chances de a cepa H7N9 – que não era identificada nos EUA desde 2017 – chegar ao solo brasileiros são consideradas menores que a já conhecida H5N1.
Na última semana, Kennedy Jr. afirmou em uma entrevista à imprensa local que os avicultores e autoridades federais “deveriam considerar a possibilidade de deixar que isso (gripe aviária) se espalhe pelos rebanhos, para que possamos identificar as aves e preservar as que são imunes a isso”.
A ideia contrasta com uma série de medidas e esforços financeiros de mais de US$ 1 bilhão que vêm sendo anunciados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) para combater a doença, mas não foi a primeira vez que esta hipótese foi cogitada por um membro do governo.
“Há alguns fazendeiros por aí que estão realmente dispostos a tentar isso em um piloto enquanto construímos o perímetro seguro ao redor deles para ver se há um caminho a seguir com imunidade”, disse Brooke Rollins, a secretária de Agricultura, à TV Fox News no mês passado, sobre deixar o vírus se espalhar.
Greg D. Tyler, presidente do Conselho de Exportadores de Frango e Ovos dos EUA (USAPEEC, sigla em inglês) disse que a estratégia devastaria o mercado americano.
“Nenhum país aceitaria nossos produtos ou nossa genética. Você só conseguiria movimentar produtos cozidos. Mais importante, você estaria permitindo que fazendas infectadas fossem fábricas de vírus”, ressaltou o dirigente.
Haveria também a chance de aumentar os problemas de bem-estar animal, por permitir que cresça a taxa de mortalidade.
“Você colocaria mais vírus no ambiente, o que tornaria a disseminação mais provável. Você estaria expondo os trabalhadores a níveis mais altos de vírus, o que poderia resultar em mais casos humanos”, acrescentou Tyler.
Dados do Conselho mostram que as perdas de exportação nos setores de frango de corte, peru e ovos alcançaram cerca de US$ 1,99 bilhão entre fevereiro de 2022, quando começou o surto da gripe aviária no país, e novembro de 2024. Isso significa que o prejuízo é ainda maior, considerando que o vírus continua ativo.