Um surto de influenza aviária altamente contagiosa que tem se espalhado por países da Ásia e Europa e colocado a indústria global em alerta pode se traduzir em oportunidades de exportação para o Brasil, maior fornecedor global de carne de frango, devido a possíveis suspensões de embarque sobre regiões contaminadas, disseram membros do setor à Reuters.
Mais de 20 milhões de frangos já foram abatidos somente na Coreia do Sul e Japão desde novembro. Na semana passada, a cepa altamente patogênica H5N8 chegou à Índia, sexta maior produtora do mundo.
Hong Kong decidiu na quinta-feira suspender a importação de carne e subprodutos de aves de regiões do Japão e França, devido aos surtos da chamada gripe aviária. Na semana passada, a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) já havia suspenso a entrada da proteína francesa.
Neste cenário, há possibilidade de incremento nas vendas externas de frango do Brasil, embora em proporções menores do que as oportunidades que foram criadas nos mercados das carnes de porco e bovina em decorrência da peste suína africana (PSA) na China, desde 2018, disse o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
“Objetivamente, é possível que o Brasil seja chamado a vender mais, por causa do que já aconteceu no passado, em surtos anteriores. A influenza está se alastrando de uma maneira importante”, afirmou o executivo.
Segundo ele, países europeus poderiam eventualmente comprar mais frango do Brasil para atender à demanda local, já que há embargos no continente que podem restringir a oferta do produto.
Em uma segunda hipótese, alguns produtores europeus também poderiam optar por focar o abastecimento interno em detrimento das exportações, e o Brasil teria assim chance de ganhar participação em mercados que os europeus deixariam de vender, acrescentou Santin.
O dirigente da ABPA lembrou que, além da França, a gripe aviária já atinge Alemanha, Bruxelas, Holanda e Inglaterra entre outros. A grande maioria dos casos ocorre em aves selvagens migratórias, mas surtos também foram reportados em granjas europeias, resultando na morte ou abate de pelo menos 1,6 milhão de frangos e patos na região até o novembro.
Em linha com o cenário visto pela associação da indústria a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, também acredita no avanço da exportação brasileira.
“Sim, [questões sanitárias] sempre favorecem os grandes fornecedores que não têm esse problema”, disse, considerando que o Brasil está entre os principais exportadores deste mercado.
Ela ressaltou, entretanto, a necessidade de reforço em cuidados sanitários para que a doença não chegue às granjas do país. “Temos que tomar nossos cuidados sempre”, afirmou.
SANIDADE
O presidente da ABPA explicou que este é um período do ano em que as aves migratórias fazem rotas pela Ásia e param nas lavouras de arroz, espalhando a doença no entorno.
“O Brasil tem uma posição privilegiada e algumas rotas dessas aves são só de passagem, elas não param no Brasil. Há um sistema reforçado de monitoramento e prevenção, e ainda assim estamos enviando alertas para que o setor reforce seus cuidados”, explicou.
Lilian Figueiredo, coordenadora de produção animal da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), disse à Reuters que a produção de aves brasileira é uma das mais seguras do mundo, com rígidos protocolos de biosseguridade.
“As granjas contam com telas que impedem o contato com aves selvagens, visitantes precisam de roupas adequadas e não se pode visitar duas granjas diferentes em um espaço de tempo inferior a 48 horas”, exemplificou a especialista.
Ela acredita que sejam remotas as possibilidades de entrada da doença no Brasil, considerando também a questão das rotas das aves migratórias. Ainda que isso aconteça, há um plano de contingência elaborado para contenção do problema, disse.
“A velocidade que um país controla o surto da doença é o que determina o impacto que haverá no mercado”, acrescentou o presidente da ABPA.
A associação projetou em dezembro que as exportações de frango do Brasil devem fechar 2021 com alta de 3,6%, em 4,35 milhões de toneladas.