Falando no Fórum Internacional de Ciência Avícola 2021, o pesquisador Jongseo Mo, do Southeast Poultry Research Lab (Athens, Georgia, EUA), demonstrou como diferentes espécies aviárias comercializadas em mercados de aves vivas (LBMs na sigla em inglês: “live bird markets”) podem servir como hospedeiros do vírus da gripe aviária.
Sua pesquisa – concentrada nas flutuações dos vírus da gripe aviária em mercados no Nordeste dos Estados Unidos (mais exatamente, em Nova Iorque) – descobriu que os vírus se adaptaram rapidamente e adquiriram capacidade de infectar diferentes espécies de aves. Ele observou que, ao longo de um ano, um vírus da gripe aviária, H2N2 / Ck / NY / 19, tornou-se mais transmissível devido a uma única mutação genética. Galinhas-d’angola e patos de Pequim infectados liberaram quantidades significativas do vírus por um longo período – aumentando a probabilidade de novas infecções pela Influenza Aviária (IA).
Os resultados de Mo mostraram que os vírus da gripe aviária com essa mutação tinham a capacidade de se adaptar a um hospedeiro de nova espécie. O vírus H2N2 pode invadir os mercados de aves vivas e circular entre várias espécies de aves, amplificando e sustentando a infecção. Ele enfatizou que as autoridades de saúde animal deveriam aumentar a vigilância de doenças nos mercados de aves vivas. “Esse surto de gripe aviária foi de baixa patogenicidade e não produziu mortalidade – o próximo pode não ser”.
Mercados de aves vivas: um canal para a IA
A gripe aviária, como outras doenças aviárias, pode ser transmitida por contato direto. Para a maioria dos surtos de gripe aviária, uma ave doente geralmente divide espaço com uma saudável e a doença se espalha rapidamente. É por isso que os avicultores são encorajados a limitar o contato de suas aves com outras espécies e implementar medidas de biossegurança.
Os LBMs são desafiadores sob a perspectiva da biossegurança e do gerenciamento de doenças. Embora as aves possam estar engaioladas enquanto no mercado, ainda há uma alta probabilidade de contato entre bandos e entre espécies. As pessoas que vão aos mercados muitas vezes passam por outras áreas ou acidentalmente pisam nas fezes das aves antes de entrar no mercado, introduzindo novos patógenos no meio ambiente. De acordo com Jongseo Mo, os mercados atuam como um reservatório – feito pelo homem – para doenças aviárias. E podem ter sérias consequências para a saúde pública e animal se não forem administrados de maneira adequada.
O estudo e principais resultados
Mo queria examinar a patogenicidade, infecciosidade e transmissibilidade de duas cepas de gripe aviária H2N2 que ele isolou de um mercado de aves em Nova Iorque em 2018 e 2019. Ele queria especificamente determinar se o vírus estava sofrendo mutações e se tinha a capacidade de se adaptar a novas espécies – galinhas, galinhas d’angola e patos de Pequim.
Os dois vírus isolados, H2N2 Ck / NY / 18 e H2N2 Ck / NY / 19, foram ambos de baixa patogenicidade e coletados em três espécies diferentes de aves. No entanto, Mo observou que o isolado Ck / NY / 19 apresentava deleção de haste de NA em seu genoma. Ele levantou a hipótese de que essa exclusão aumentaria a transmissibilidade do vírus em aves domésticas e aquáticas, uma vez que essa associação havia sido observada em outros estudos.
Mo planejou um experimento com três doses separadas de “inoculação” com os vírus isolados. Ele expôs as três espécies de aves a uma carga de vírus baixa, média e alta e coletou amostras para ver como o vírus se disseminava e era transmitido a outras espécies.
Seus resultados mostraram que o vírus H2N2 Ck / NY / 18 poderia infectar todas as três espécies de aves se houvesse exposição a altas doses. Em termos de eliminação e transmissão, as galinhas-d’angola disseminaram mais vírus do que as galinhas. Aves expostas a baixas e médias doses do vírus não transmitiram a infecção.
No entanto, aves inoculadas com o vírus H2N2 Ck / NY / 19 em doses médias e altas apresentaram maior infectividade e eliminaram o vírus por um período mais longo. Isso significa que o vírus poderia ser transmitido através de contato – algo que não foi observado em aves inoculadas com a cepa Ck / NY / 18. Mo observou que as galinhas-de-angola disseminaram a maior parte do vírus, com os patos de Pequim e galinhas emitindo menos, respectivamente.
A pesquisa de Mo sugere que a deleção da haste do NA observada na cepa Ck / NY / 19 permitiu que o vírus se proliferasse rapidamente, tornando-o mais infeccioso e transmissível. A exclusão também permitiu que o vírus se replicasse em duas novas espécies de aves, garantindo que o vírus permanecesse ativo no ambiente.
Mo sugere, daqui para frente, a coleta rotineira de amostras cloacal e orofaríngea de aves em LBMs. Se os pesquisadores puderem identificar a deleção de haste do NA em outros vírus da gripe aviária, podem tomar medidas de precaução para prevenir a propagação da doença.
O Fórum Internacional de Ciência Avícola ocorreu nos dias 25 e 26 de janeiro como parte da Conferência virtual do IPPE (Atlanta, Georgia, EUA).