Enquanto a humanidade tenta encontrar seu equilíbrio após a pandemia de Covid-19, a Universidade do Kansas (KU, na sigla em inglês) se integra a outras instituições para ajudar a preparar os Estados Unidos e o resto do mundo para futuras crises globais de saúde.
Andrew Townsend Peterson, Professor Emérito de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade e curador de ornitologia no Instituto da Biodiversidade e Museu de História Natural da KU, faz parte de uma equipe de pesquisadores que obteve financiamento da National Science Foundation (NSF) para estabelecer o Centro Internacional para Previsão e Prevenção de Pandemias de Influenza Aviária – identificado, por ora, pela sigla ICAIP3.
A missão do novo centro multiinstitucional é enfrentar grandes desafios na saúde global com foco na previsão e prevenção da pandemia de gripe aviária. Pois, notoriamente, a pandemia de gripe [espanhola] de 1918 mostrou que os vírus da gripe iniciados nas aves podem matar milhões de humanos. E, nos últimos anos, o vírus vem desencadeando surtos em todo o mundo, tendo ocasionado a morte direta ou o sacrifício sanitário de bilhões de aves domésticas e selvagens.
“A pandemia da Covid-19 foi um alerta para o mundo: destacou a importância de investir na saúde pública e nos fundamentos científicos básicos da saúde pública”, disse Peterson. “Ela teve uma escala de impacto econômico e de saúde pública sem paralelo em nossa vida. Este centro teria monitoramento viral contínuo em todo o mundo, mas particularmente em regiões que tendem a dar origem a cepas de gripe pandêmica. Teríamos uma compreensão preditiva de quais tipos de novas cepas de gripe aviária têm potencial pandêmico. Você pode imaginar o valor de monitorar as populações de aves selvagens e acompanhar toda a contínua variação nos vírus da gripe, sendo capaz de dizer: ‘Ei, olhem este vírus – é nele que precisamos nos centrar!'”
O ICAIP3 será apoiado pela Predictive Intelligence for Pandemic Preparedness (PIPP), parte dos esforços da NSF para entender a ciência por trás das pandemias e desenvolver a capacidade de prevenir e responder a futuros surtos.
“Precisamos pensar de forma ampla quando se trata de pandemias”, ressalta Peterson. “A Covid-19 é apenas um exemplo das muitas e diversas pandemias que ocorreram ao longo da história. A gripe espanhola, as pandemias de peste, a febre tifoide e a gripe aviária são exemplos de doenças que tiveram um impacto significativo na saúde humana e na economia. Nós precisamos ser proativos em nossa abordagem para entender e prevenir esses tipos de surtos, em vez de esperar que eles aconteçam e lutar para enfrenta-los”.
A destinação para o projeto PIPP é de aproximadamente US$ 1 milhão. Além da KU, o projeto ICAIP3 tem como parceiros a Universidade de Oklahoma, onde o trabalho está sediado, o US Geological Survey, a Universidade da Califórnia-Berkeley e o Centro Colaborativo da Organização Mundial da Saúde para Estudos sobre a Ecologia da Influenza em Animais e Aves no St. Jude Children’s Research Hospital.
Peterson informa que os participantes do projeto pretendem solicitar financiamento adicional assim que o ICAIP3 obtiver sucesso como prova de conceito durante sua fase inicial de 18 meses, estruturada para se alinhar com o objetivo do PIPP de explorar ideias para uma competição posterior por financiamento mais amplo, em nível central.
A equipe trabalhará para estabelecer o monitoramento viral contínuo em todo o mundo, concentrando-se principalmente nas regiões que historicamente dão origem a cepas de gripe pandêmica. O objetivo é compreender os tipos de novas cepas com potencial pandêmico e ajudar a prever e prevenir surtos nas próximas décadas.
Peterson e seus colaboradores testarão modelos de computador disponíveis que rastreiam o “transbordamento” que leva uma doença a se espalhar entre espécies animais (o “transbordamento de aves hospedeiras” acontece quando aves selvagens transmitem uma doença a galinhas, por exemplo). Em seguida, a equipe trabalhará para melhorar essas abordagens de modelagem executando simulações de transbordamento.
“Se tivermos sucesso, o que sairá é um modelo do comportamento geográfico, operacional e em escala individual de um vírus com potencial pandêmico. A partir daí poderemos ter resposta a questões como: o vírus está restrito a apenas um lugar? Ou dissemina-se? Se apresentar potencial para se disseminar: leva anos ou faz isso em poucos dias?”.
Em essência, o trabalho a desenvolver é comparável à criação de um sistema de alerta precoce para orientar pesquisadores e autoridades de saúde pública enquanto se decide onde centralizar recursos para obter o efeito máximo.
Com a gripe aviária, parte desse trabalho deve incorporar dados sobre os padrões migratórios das aves.
“Você recebe algum aviso antecipado de um surto em andamento e diz: ‘Ok, temos certeza de que é um vírus hipotético específico’. Agora, quais são seus padrões de comportamento mais prováveis? Com que rapidez passará de aves selvagens para aves domésticas? Se vier da Ásia, onde esperaríamos que aparecesse nos Estados Unidos? Se essa coisa se disseminou no verão e subiu para a Sibéria, então o salto pode ser para os EUA porque algumas dessas aves ‘pensam’ que o leste da Sibéria é o oeste do Alasca e migram para o sul nas Américas no outono. Teríamos um modelo muito melhor do que o que temos agora.”
Juntamente com a integração de grandes quantidades de dados díspares em modelos de computador aprimorados, a colaboração terá como objetivo constituir uma comunidade de pesquisadores em torno de uma “abordagem de saúde única (Sistemas Humano-Animal-Ambiental)” necessária para assumir “a complexidade, a dinâmica e o tele acoplamento do SHAA em várias escalas espaciais e temporais e níveis de organização”. Conforme Peterson, espera-se que o trabalho também fortaleça a capacidade de rastrear doenças em aves e outras espécies, bem como proteger a saúde pública e evitar perturbações na sociedade