O aumento dos preços dos produtos agrícolas preocupa o Ministério da Agricultura, mas não faz a Pasta pensar em medidas drásticas. O governo não vai investir em estocagem de alimentos ou limitar de alguma forma as exportações do agronegócio.
O plano, que considera que não haverá problemas de abastecimento, é incentivar a produção para atender o mercado e monitorar os repiques de alta nas cotações. O remédio não seria reduzir preços de maneira artificial, mas fazer com que eles estimulem o aumento da produção, e, assim, da oferta, afirma Silvio Farnese, diretor de Comercialização e Abastecimento do ministério. “Nossa preocupação é arrumar produto”, diz.
Há particular atenção com o milho porque o encarecimento do grão tem reflexos sobre criadores, o que pode afetar a oferta das proteínas aos consumidores. O ministério quer estimular o plantio de área maior do cereal na safra de verão. “Se aumentarmos a produção, vamos reduzir o ‘gap’ de picos de preços na entressafra”, pontuou Farnese.
Para isso, a Pasta desenha alternativas, como melhorar a subvenção ao seguro rural para milho primeira safra, corrigir o preço mínimo para que o governo garanta incentivo ao produtor e até bonificações no crédito. Em fevereiro, a ministra Tereza Cristina declarou que a alta preocupa, mas que os preços devem se acomodar no segundo semestre.
O ministério ainda criou um comitê de crise (CC-AGRO-COVID19) para monitorar e propor estratégias para minimizar os impactos da pandemia sobre a produção agrícola e o abastecimento de alimentos e insumos.
Todas as sugestões do segmento de proteína animal sobre a oferta de milho estão em análise. Entre elas estão a desoneração de PIS/Cofins para quem não dispõe do mecanismo de drawback, discutida com a equipe econômica, e a compra do cereal dos Estados Unidos, que depende de aprovação de transgenia pela CTNBio. A extensão da isenção da tarifa de importação de países de fora do Mercosul, que tem vigência até o fim do mês, é improvável, diz Farnese.
Segundo ele, o governo não tem gente suficiente para criar um sistema de informação sobre as exportações de milho, que daria previsibilidade aos pecuaristas, mas apoia que o setor privado o faça. O algodão já registra as exportações na B3, afirma, e o segmento do arroz quer implementar o mesmo mecanismo de transparência.
O recrudescimento da pandemia tem puxado as cotações agrícolas para cima, cenário diferente do que Pasta previa para o início da colheita. “O dólar é o grande fator que gera esses preços internos. Houve uma importação do problema”, afirmou.
Mesmo assim, nada muda na política de estoque de alimentos. “Se o governo sinalizar que vai entrar no mercado comprando qualquer quantidade de soja, milho ou trigo para fazer regulação de preço, joga o mercado para cima. Se quiser fazer estoque, a tendência é elevar o mercado”, diz ele.
Também está fora do radar do governo adotar qualquer limitação às exportações. “Isso desestrutura o mercado. Não temos problemas de abastecimento. O estoque está apertado, mas não falta produto”, disse Farnese.
A equipe de Tereza Cristina confia no alinhamento com o Planalto e o Ministério da Economia para evitar surpresas ou interferências nesse direcionamento. “Não vemos sentimento ou pressão para que faça algo que não está sintonizado com o pensamento da ministra”, afirma. “Não haverá mão pesada, esse governo não faz medidas que possam criar problemas futuros. Quanto mais aberto o mercado, mais saudável para o país”.
O arroz não é “preocupação imediata” do Ministério da Agricultura, que considera a produção suficiente para atender a demanda interna. A Pasta projeta que as exportações do cereal em 2021 serão menores que as do ano passado. A certeza, porém, é que a cultura mudou de patamar. “Os preços antigos não voltam mais, mas a previsão da saca a R$ 120 já sumiu”, concluiu.