Embora os produtores brasileiros devam colher 15,8 milhões de toneladas de grãos a mais nesta safra, reforçando sobretudo a oferta mundial de soja e milho, os preços deverão se manter elevados e novas altas poderão ser registradas, na avaliação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A valorização do dólar frente ao real sustentou as cotações internas apesar do avanço na colheita no último mês. Para o arroz, “vilão” da inflação em 2020, a perspectiva é de queda, mas limitada.
“Não há tendência de baixa hoje nos preços da soja. O mercado está apostando em leve tendência de alta”, disse Allan Silveira, superintendente de Gestão da Oferta da Conab. O movimento é influenciado pela demanda por proteínas animais, com participação decisiva da recuperação do plantel de suínos da China.
No país, o avanço da colheita não foi suficiente para baixar os preços da soja, devido à valorização do dólar. “Se não tivesse esse cenário mundial altista, preços poderiam ter baixado, mas não foi o que ocorreu”, afirmou Silveira. A Conab estima que o Brasil vá produzir 135,1 milhões de toneladas da oleaginosa, ante 124 milhões em 2019/20. As exportações deverão crescer 3,8% e chegar a 86,1 milhões de toneladas.
“A disponibilidade interna continuará reduzida, com impulso do consumo de biodiesel e demanda por proteína, além das exportações aquecidas”, destacou o superintendente.
A atenção ainda está concentrada no atraso da colheita no país. Apenas 37,6% da área de soja foi colhida, ante quase 60% na safra anterior. Atualmente, 35% das lavouras estão em fase de maturação. “Nos próximos 40 dias, vamos ter uma colheita de mais de 70 milhões de toneladas de soja”, indicou Maurício Lopes, gerente de Acompanhamento de Safras da Conab.
A evolução deverá impulsionar o plantio do milho segunda safra, que também está atrasado. Hoje, 54,6% da área foi plantada. Na temporada passada, eram 78,4% das lavouras já instaladas. “Na última semana, tivemos um plantio considerável, de quase 20% da área total. Foram 3 milhões de hectares plantados em uma semana”.
Motivo de reclamações no ano passado, no auge das primeiras medidas de restrições do governo, o arroz deve seguir com oferta e demanda ajustadas e os preços não devem cair muito. Os estoques finais, em dezembro de 2021, são estimados em 1,7 milhão de toneladas, o segundo menor volume em cinco anos.
“A perspectiva é de tendência limitada de queda nos preços do arroz, pelos estoques finais. Temos que ter atenção para as paridades de importação e exportação, mas temos abastecimento garantido”, disse Allan Silveira.
A Conab manteve a previsão de queda no consumo doméstico de arroz este ano, mas admite rever os dados com a aprovação de novo auxílio emergencial. “Como não tínhamos aprovação da PEC Emergencial, mantivemos a previsão de consumo. Sabemos que o auxílio terá volume um pouco menor, então deve haver aumento de consumo inferior ao que tivemos no último ano”, concluiu o superintendente.