A ministra Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e o secretário de Estado George Eustice, do Departamento do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido assinaram nesta quinta-feira (11) o Memorando de Entendimento de criação do Comitê Conjunto de Agricultura (CCA) Brasil Reino Unido. A partir desta assinatura, as autoridades dos dois países desenvolverão esforços para garantir a continuidade de consultas bilaterais sobre questões relacionadas ao comércio de bens agropecuários, e de estabelecer um fórum de debates relativos aos interesses de ambos os países, inclusive potenciais arranjos comerciais para o futuro.
O CCA consistirá de reuniões entre os participantes, que serão realizadas alternativamente em cada país (ou virtualmente, quando necessário) e entre órgãos públicos do Brasil e Reino Unido e instituições pertinentes de sanidade agrícola e saúde animal.
Outros objetivos do CCA abarcam a facilitação de discussões e colaboração sobre questões agropecuária ente os dois países, incluindo-se, mas não limitado aos itens, como o comércio agrícola e de alimentos, e acesso aos mercados; regulamentações e certificações técnicas pertinentes às matérias agrícolas; medidas de segurança alimentar e segurança de alimentos; sustentabilidade de produção agropecuária; pesquisa e inovação na área de agricultura e abastecimento, e normas sanitárias e fitossanitárias internacionais.
No encontro, a ministra convidou os representantes britânicos a conhecer importantes programas existentes no Brasil, como o Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), o Programa Nacional de Bioinsumos e o Renovabio. Também citou o Código Florestal, destacando as parcerias internacionais e o Cadastro Ambiental Rural (CAR). “Temos muitas coisas para trocar. Temos muito interesse nessa parceria, mas temos que ter o equilíbrio para que possamos caminhar cada vez mais juntos”, disse Tereza Cristina.
Ela também enfatizou que o objetivo do Comitê é desburocratizar e acelerar as interações entre os dois países. “Entendemos que, neste primeiro momento, o Reino Unido seguirá adotando muitos dos parâmetros europeus, inclusive sanitários e fitossanitários. Mas temos a expectativa de que, com o tempo, sem abandonar seus elevados padrões, o Reino Unido, nas suas normativas técnicas, se tornará mais alinhado às regras internacionais, mais próximo de abordagens baseadas na ciência”, destacou a ministra.
Também participou da assinatura do memorando o ministro para o Pacífico e Meio Ambiente do Reino Unido, Zac Goldsmit.
Comércio bilateral
As exportações do agro brasileiro para o Reino Unido cresceram 5% em valor, no comparativo 2019/2020, evoluindo de US$ 1,031 bilhão para US$ 1,087 bilhão.
Os principais produtos do agro exportados em 2020 foram principalmente: soja – US$ 220,9 milhões, aves (frango e peru) – US$ 204,4 milhões, frutas, como melões, uvas, melancias, goiabas e mangas – US$ 138,6 milhões, preparações alimentícias e conservas de origem bovina – US$ 96,1 milhões, café – US$ 96 milhões, açúcar – US$ 57,4 milhões e álcool etílico – US$ 27,4 milhões.
Os principais produtos importados pelo Brasil provenientes do Reino Unido, no ano passado, foram o uísque que alcançou US$ 55,7 milhões, e o gim com US$ 8,7 milhões. Juntas, estas bebidas representaram 60% das exportações do agro britânico para o Brasil, que foram de US$ 107,8 milhões.
De acordo com a explicação do adido agrícola em Londres, Augusto Billi, o ano de 2020 foi bastante atípico, seja pela deflagração da pandemia de Covid-19, que alterou hábitos de consumo e cadeias de suprimentos, seja também pela característica peculiar do Período de Transição do Brexit vivido pelo Reino Unido e encerrado em 31/12/20.
“A economia do Reino Unido sofreu queda brusca nos meses de março e abril, com redução de cerca de 20%, recuperando-se lentamente, mas sem alcançar os níveis anteriores de atividade econômica”, complementa Augusto Billi.
Apesar de todas as dificuldades do ano de 2020, o agronegócio brasileiro conseguiu crescer 5% no mercado britânico. As expectativas de crescimento são favoráveis para 2021.
O Reino Unido importa mais de 50% dos alimentos que consome, e cerca de 70% dos produtos são provenientes da UE. Apesar do Acordo de Comércio e Cooperação celebrado entre Reino Unido e União Européia em dezembro/20, o simples fato da imposição mútua de verificações sanitárias e fitossanitárias nas fronteiras favorece a competitividade dos produtos brasileiros.
“Um fato positivo do pós Brexit que favoreceu o Brasil foi a decisão do Reino Unido de desregulamentar algumas frutas, que deixaram de exigir Certificação Fitossanitária”, salienta Billi.
“Também a criação da Quota Tarifária Autônoma, com tarifa zero para 260 mil toneladas de açúcar bruto de cana, aumenta a expectativa positiva para o setor. Estima-se que o Brasil deve ocupar boa parte desta quota”, conclui.