Aves marinhas estão as entre principais vítimas da doença, de acordo com os dados do Ministério da Agricultura.
O Brasil segue em alerta com a circulação da gripe aviária, com casos confirmados em diversos estados, principalmente em aves silvestres encontradas nas regiões costeiras.
Aves mais afetadas
Embora o país ainda mantenha o status de livre da doença em produção comercial, os registros em fauna silvestre têm aumentado e mobilizado pesquisadores e autoridades sanitárias. Um levantamento recente mostra que espécies marinhas, como os trinta-réis, lideram a lista das mais afetadas pelo vírus.
Um gráfico divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com base em registros laboratoriais confirmados, mostra as principais espécies afetadas até agora:
• Trinta-réis-de-bando (60 casos)
• Trinta-réis-real (52 casos)
• Trinta-réis-boreal (12 casos)
• Trinta-réis-de-bico-vermelho (8 casos)
• Bobo-pequeno, galinha, leão-marinho-do-sul e atobá-pardo (3 a 4 casos)
Segundo o Prof. Dr. Guilherme Renzo Rocha Brito, ornitólogo do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC, essas espécies compartilham características ecológicas que favorecem a propagação do vírus: são aves marinhas (costeiras ou pelágicas) e formam grandes colônias reprodutivas, o que facilita o contato próximo entre indivíduos.
“Não é só por serem migratórias. Elas vivem em grandes colônias, com muito contato entre indivíduos, o que facilita a disseminação. É semelhante ao que ocorre em granjas: um único animal infectado pode contaminar rapidamente centenas”, explica.
Além dos trinta-réis e outras aves marinhas, o pesquisador Luiz Caron, da Embrapa Suínos e Aves (Concórdia, SC), destaca outras espécies silvestres afetadas, como o cisne de pescoço negro e a caraúna. Em relação às domésticas, houve surtos em galinhas, patos e marrecos, em propriedades rurais que mantinham essas aves para subsistência.
“As aves migratórias são consideradas os principais vetores biológicos. Elas replicam e eliminam o vírus, funcionando como hospedeiros naturais da doença. Podem transmiti-la para as aves domésticas, causando surtos e mortalidade, especialmente em criações comerciais”, afirma Caron.
Guilherme, no entanto, alerta para o uso do termo “vetores”:
“Essas aves não são vetores no sentido clássico. Elas são vítimas da doença. Toda ave está potencialmente suscetível ao vírus — basta o contato. As migratórias chamam atenção porque podem carregar o vírus por longas distâncias, por isso são tratadas como sentinelas da circulação do patógeno.”
Entre os casos migratórios destacados:
• O trinta-réis-boreal vem da América do Norte para invernar na América do Sul.
• O bobo-pequeno percorre uma das maiores rotas migratórias do mundo, da Escócia e Inglaterra até o Hemisfério Sul.
• Já o atobá-pardo é mais residente, mas também se reproduz em colônias densas.
Alerta e monitoramento
A gripe aviária de alta patogenicidade tem causado impactos ambientais, econômicos e sanitários. O cenário reforça a necessidade de monitoramento constante da fauna silvestre, especialmente nas zonas costeiras e em áreas de reprodução colonial.