Ao passo em que a safra 2020/21 da América do Sul vai se mostrando mais clara para o mercado, apesar de algumas nebulosidades ainda, os olhos todos do mercado vão se voltando à nova safra dos Estados Unidos, onde os produtores norte-americanos terão difíceis decisões pela frente. A disparada dos preços da soja e do milho – que supera 60% nos últimos 12 meses em Chicago – levou as cotações a patamares muito melhores e mais rentáveis, e as condições deverão estimular um aumento considerável de área no país.
Os valores mais elevados, afinal, são reflexo de uma demanda intensa pelos produtos norte-americanos e por estoques que se mostram como um dos menores dos últimos anos no país. Assim, é expectativa comum entre consultorias nacionais e internacionais um aumento de área na próxima temporada, especial e principalmente na soja.
Para a Agrinvest Commodities, o incremento esperado para a soja é de 2,43 milhões de hectares, levando a área a ser semeada com a oleaginosa a 36,02 milhões de hectares. Já no caso do milho, a área, de acordo com as projeções da consultoria, deverá ser mantida nos 36,83 milhões de hectares.
“Mas não está descartada uma pequena redução da área de plantio em torno de 400 mil hectares”, explica o analista de mercado Marcos Aráujo.
Já para a IHS Markit, a antiga Informa Economics, a expectativa para a área de soja é de que haja um aumento de 2,83 milhões de hectares, para 36,46 milhões. Para o milho, a empresa estima uma área de 38,12 milhões hectares, 1,89 milhão a mais do que na temporada 2020/21.
“E na soma da IHS, os EUA podem ter um aumento de área na safra 2021 com as três culturas (soja, milho e trigo) de 4,53 milhões de hectares. O último grande aumento de área nos EUA ocorreu na safra 2012/13, de 3,60 milhões de hectares em relação à safra anterior”, complementa o analista.
Com as expectativas prontas, as consultorias privadas agora esperam pelo próximo Agricultural Outlook Forum do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), que acontece entre 18 e 19 de fevereiro e, na sequência, pelo boletim Prospective Plantings, que será reportado pela instituição em 31 de março.
Durante o evento, o USDA traz suas primeiras projeções e expectativas para a nova safra e no reporte do final de março o mercado conhece as primeiras estimativas oficiais para a safra 2021/22. Até lá, as especulações se intensificam, com foco também para o cenário climático em que a próxima temporada dos EUA deverá se desenvolver.
Já é sabido pelo mercado, todavia, que o atual quadro de oferta e demanda já não “permite” quebras em função de adversidades diante de estoques tão apertados nos Estados Unidos neste momento, enquanto o consumo cresce. Em sua última entrevista ao Notícias Agrícolas, o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira, afirmou que o mercado está em um atual macrociclo de altas para as commodities, que deverá durar pelo menos mais 3 a 5 anos, que é o intervalo mínimo para que volte a haver equilíbrio entre a produção e o consumo.
Apesar de o mercado não ter espaço para estes momentos de “tensão climática”, já começam a aparecer problemas com o tempo seco no Meio-Oeste americano. Observando o sistema Drought Monitor, que monitora as condições de seca no país e comparando 19 de janeiro de 2021 (esquerda) com 21 de janeiro de 2020 (direita) é possível observar que a situação com a seca é bem mais grave este ano.
“O clima é muito preocupante. E os Estados Unidos precisam aumentar a área e ter produtividades quase recordes para garantir estoques razoáveis”, complementa Araújo. No entanto, não só no comparativo é possível ver porque há preocupações, como também no mapa que sinaliza as condições para o período de janeiro a março.
Para o analista internacional Kevin Van Trump, o clima nos EUA ainda continua sendo um “grande coringa” para o mercado, o que pode não ter grande impacto sobre o andamento dos preços neste momento, entretanto. “Os altistas precisam ver os EUA exportadores ganhando força e atraindo novos negócios até quando o clima se tornar mais importante e incerto”, diz.
RETORNO FINANCEIRO – MILHO X SOJA
Ao lado das previsões climáticas e das especulações sobre a área de plantio, os produtores já têm adquirido seus insumos e tomado suas decisões, além de realizar os trabalhos de campo que são possíveis, de acordo com relatos que chegam do Corn Belt. Afinal, os preços são monitorados diariamente para que, alinhado a seus custos de produção, lhes garantam boas margens de rentabilidade.
Um levantamento feito pela Agrinvest mostra que o retorno financeiro da soja nos EUA hoje fica em US$ 302,67 por hectare – considerando um custo de US$ 1135,99/ha e uma produtividade de 57,84 sacas por hectare. Já para o milho, a renda estimada é de US$ 153,32 por hectare, com custo de US$ 1702,92 por hectare e rendimento médio de 186,74 sacas/ha.
Para os cálculos, Marcos Araújo utilizou as seguintes referências:
SOJA
Retorno financeiro $302,67 por hectare ($122,48 por acre)
Soja Nov-21 $1173,50 centavos por bushel
Basis -45 centavos por bushel
Produtividade esperada 57,84 sacas por hectare (51,60 bpa)
Custo de produção em $1.135,99 por hectare ($459,71 por acre
MILHO
Retorno financeiro $153,32 por hectare ($62,05 por acre)
Milho Dez-21 $451,50 centavos por bushel
Basis -30 centavos por bushel
Produtividade esperada 186,74 sacas por hectare (178,50 bpa)
Custo de produção em $1.705,92 por hectare ($690,35 por acre)
No entanto, os produtores não desviam os olhos do andamento da Bolsa de Chicago. Afinal, o USDA indica as relações de estoques/uso da soja e do milho em seus níveis mais baixos em sete anos, ficando em 10,6% e 3,1%, respectivamente. Dessa forma, como explica a analista internacional Karen Braun, ao lado de outros analistas, acredita que o país pode não voltar a registrar uma condição de “oferta abundante” mesmo com safras muito grandes na temporada 2021/22.
“Existem vários fatores que influenciam as decisões dos agricultores, mas a proporção da soja CBOT de novembro para o milho de dezembro é um indicador primário de lucratividade implícita. Até agora, em janeiro, essa proporção caminhou perto do recorde, níveis favoráveis à soja, se comparando somente aos anos de 2017 e 2018”, diz Karen.